Demais vôos estão suspensos até ao menos o próximo dia 28; mais de 8 mil dos 10 mil empregados devem ser demitidos

Nova dona promete honrar milhas e bilhetes e tem audiência crucial hoje em corte de NY para conseguir manter suas aeronaves

A VarigLog arrematou a Varig em leilão ontem de manhã por US$ 24 milhões (R$ 52,32 milhões). À tarde, a nova direção anunciou que concentrará seus vôos só na ponte aérea Rio-São Paulo até o próximo dia 28. Disse ainda que passageiros com bilhetes para outros destinos “serão acomodados por outras companhias aéreas de acordo com os planos de contingência da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)” e que retomará as rotas abandonadas “gradativamente”.

Até ontem, a Varig tinha só um avião na ponte aérea, uma das rotas domésticas mais lucrativas. Agora, vai aumentar o número de vôos diários da ponte aérea de 10 para 36. Segundo o presidente do Conselho de Administração da VarigLog, Marco Antonio Audi, a idéia é colocar no trecho ao menos 4 dos 13 aviões da empresa ainda em operação.

Em um leilão sem surpresas e sem concorrentes, a VarigLog ofereceu apenas o preço mínimo. Na prática, a ex-subsidiária, que participou da disputa sob o nome de Aéreo Transportes Aéreos, já havia pago a quantia necessária para assumir as operações da Varig.

Desde o fracasso do primeiro leilão, quando a NV Participações, empresa do TGV (Trabalhadores do Grupo Varig), não conseguiu efetuar a primeira parcela do pagamento, a Varig sobrevive com dificuldades. A Justiça anulou a primeira venda e reduziu drasticamente o lance mínimo, estipulado antes em US$ 860 milhões (R$ 1,883 bilhão), pelas operações domésticas e internacionais.

A VarigLog ofereceu uma linha de crédito no valor de US$ 20 milhões para que a Varig sobrevivesse até o novo leilão. O preço mínimo foi definido com base no valor da linha de crédito acrescida de 20% de multa. Na prática, a VarigLog desembolsou apenas os US$ 20 milhões, que já havia depositado para o pagamento de combustível, tarifas e salários.

A proposta da empresa inclui ainda investimentos na nova Varig e pagamento de credores, que juntos somam US$ 485 milhões (R$ 1,062 bilhão). As dívidas da Varig, estimadas em R$ 7,9 bilhões, ficam na “velha Varig”, a fatia da empresa que permanece em recuperação judicial, com uma única rota (SP-Porto Seguro) e sob a bandeira Nordeste. Segundo o juiz Paulo Fragoso, que cuida do caso Varig, o leilão foi uma vitória, mas a empresa ainda precisa superar dificuldades. “É muito importante a manutenção da “velha Varig”, que ela seja saneada para fazer frente às despesas”, disse. Se a “velha Varig” falir, a VarigLog pode ter que assumir as dívidas da empresa.

Uma outra empresa, a Cooper Data, tentou se habilitar na última hora, mas não conseguiu comprovar capacidade de pagamento e foi desqualificada.

A VarigLog mantém conversas com outras empresas, como a canadense Aeroplan, para formar parcerias em compartilhamento de vôo. Dessa forma, ela não perderia a concessão de rotas valiosas.

A Varig opera com 13 aviões e precisa negociar com empresas de leasing para aumentar a frota. A VarigLog contratou a consultoria Seabury para escolher quais aviões valem a pena ser recuperados e as empresas mais dispostas a negociar. Cálculos do consultor Paulo Sampaio indicam que ela precisaria de 53 aviões para operar todas as linhas que possui concessão. Se não usar retomar essas rotas em 30 dias, deverá perdê-las para outras empresas.

Arresto

A Varig tem audiência hoje com a Justiça americana e precisa convencer o juiz Robert Drain, da Corte de Falências de Nova York, a prorrogar o prazo da liminar que protege os aviões de arresto.

Segundo Audi, presidente do Conselho de Administração da VarigLog, a Justiça do Rio vai comunicar ao juiz Drain que mais uma etapa do processo foi cumprida. Os novos donos querem pedir prorrogação da liminar por mais 30 dias para se proteger de arresto de aviões.

De acordo com Audi, uma lista de demissões será concluída dentro de três dias. Apesar da perspectiva de demissão de mais de 8.000 dos 10 mil empregados, os funcionários aplaudiram a venda.

O presidente da Varig, Marcelo Bottini, Bottini afirmou em discurso que estava repassando à VarigLog as duas maiores preciosidades da companhia: os funcionários e o nome da empresa. “É gente que investiu nos últimos meses sua saúde, sua vida e seus salários”, disse. Bottini deverá permanecer na companhia durante a fase de transição.

Em consonância com a imagem que quer vender de “empresa do Brasil”, Bottini afirmou que, apesar da crise, a companhia está tentando oferecer um dos aviões para trazer brasileiros que estão no Líbano. Ela precisa convencer um arrendador a liberar uma aeronave para fazer a viagem.

No mercado financeiro, as ações da Varig registraram fortes perdas na Bolsa ontem. O papel preferencial da empresa perdeu 31,39% de seu valor ontem, fechando a R$ 2,60.

JANAINA LAGE e RAPHAEL GOMIDE

Folha de S. Paulo