Quinze dos 36 ministros deixarão o governo no início de abril, quando termina o prazo de desincompatibilização para quem vai disputar eleições neste ano. A dois meses do anúncio das mudanças, o Palácio do Planalto, segundo apurou o Valor, já sabe quem vai ficar e quem vai sair. Interessado em assegurar a continuidade das políticas de seu governo no ano eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai substituir os ministros que estão saindo pelos atuais secretários-executivos, com poucas exceções.
Uma das novidades do novo ministério será a substituição do ministro da Justiça, Tarso Genro, pelo deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). Genro deixará o ministério para se candidatar ao governo do Rio Grande do Sul. Ele e Cardozo integram a mesma tendência do PT – “Mensagem ao Partido”. Na avaliação da cúpula do governo, o Ministério da Justiça tem um papel importante a desempenhar neste ano.
O Palácio do Planalto está prevendo uma campanha eleitoral acirrada que, possivelmente, chegará algumas vezes aos tribunais. “É o Ministério da Justiça que faz o enfrentamento com o Judiciário, especialmente, com o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral e o Superior Tribunal de Justiça”, diz um ministro do núcleo decisório do governo. Procurador licenciado, Cardozo teria o perfil ideal para a função. Tem trânsito nos tribunais e na oposição.
Obcecado com a ideia de continuidade, o presidente Lula gostaria que alguns ministros não deixassem o governo. Um deles – o ministro dos Esportes, Orlando Silva – já foi convencido a ficar. Outro – o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo – aguarda instruções. Bernardo gostaria de disputar uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PT do Paraná. Lula, segundo um assessor direto, vai pedir a ele que fique, dando-lhe, inclusive, novas atribuições.
O presidente aprecia o fato de Paulo Bernardo enfrentar a oposição, defendendo o governo dos ataques mais duros. Se permanecer no cargo, o ministro assumirá algumas funções que hoje são da Casa Civil. Ele passará a ser, por exemplo, o porta-voz das ações da administração. Além disso, vai liderar o enfrentamento com a oposição. “Presidente não pede, manda! Ele não mandou. Se mandar, eu fico, claro”, disse Bernardo ao Valor.
Lula também não quer que o ministro da Educação, Fernando Haddad, deixe o governo. Integrante da tendência de Genro e Cardozo no PT, Haddad, que nunca exerceu cargo eletivo, vem sendo cogitado para disputar o governo de São Paulo ou uma vaga na Câmara. A ideia seria fazer com ele o que o próprio Lula fez com a ex-prefeita Marta Suplicy em 1998. Haddad, na visão de petistas como Tarso Genro, poderia emergir como uma nova liderança política em São Paulo.
Lula concorda com essa avaliação, mas acha, segundo um ministro, que “há coisas a terminar no Ministério da Educação” até o fim do seu mandato. Além disso, o presidente ainda quer convencer o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) a desistir do pleito à Presidência da República, em favor de uma candidatura ao governo de São Paulo. Se Ciro não mudar de ideia, Lula pretende lançar o senador Aloízio Mercadante (PT-SP). Ainda assim, não se descarta, no Palácio do Planalto, a possibilidade de Haddad deixar o governo para se candidatar.
Dos ministros de perfil técnico, como Guido Mantega (Fazenda), Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) e José Gomes Temporão (Saúde), apenas um decidiu trocar o governo pela disputa eleitoral – Pedro Brito, da Secretaria Especial dos Portos. Originário do mercado financeiro, Brito é um técnico que, durante alguns anos, atuou como braço direito de Ciro Gomes. Agora, ele pretende conquistar uma vaga na Câmara pelo PSB do Ceará.
O chanceler Celso Amorim, que se filiou ao PT no ano passado, deve permanecer no governo. Segundo um ministro, ele teria chances de se eleger ao Senado se tivesse optado pelo domicílio eleitoral de Brasília. “Aqui, ele ganharia com o voto de opinião”, diz esse ministro. Amorim se filiou, no entanto, no Rio. Lá, restaria a ele se candidatar a uma vaga na Câmara. “Nesse caso, não faria sentido. Seria pouco para ele”, observa um assessor de Lula.
Fonte: Valor Econômico
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