Exigência do governo brasileiro de incorporar ao padrão japonês tecnologia local não é bem recebida pelos detentores do sistema
O brasileiro poderá ter de esperar dois anos para comprar um televisor digital e assistir à programação pelo novo sistema, com melhor qualidade de imagens e sons. Esta é a avaliação do representante no Brasil do padrão japonês de TV digital, Yasutoshi Miyoshi, que participa das discussões sobre o assunto no Itamaraty.
Divergências entre japoneses e brasileiros sobre a incorporação, pelo padrão do Japão, de inovações tecnológicas desenvolvidas no Brasil criaram um impasse nas negociações.
Uma delegação de 15 japoneses iniciou ontem uma série de reuniões com representantes do governo brasileiro para elaborar um documento com os compromissos que serão assumidos pelos dois lados para o uso do padrão japonês de TV digital aqui. Miyoshi insiste na tese de que os estudos de viabilidade para a incorporação de tecnologia brasileira devem levar de seis meses a um ano para serem concluídos. As emissoras de TV e a indústria de televisores levariam outros 12 meses para instalar equipamentos e colocar os aparelhos no mercado.
O Brasil quer que os japoneses assumam esse compromisso agora, no acordo que deverá ser assinado no dia 29 entre os dois governos. “Não abrimos mão. Só vamos assinar o que contemplar nossos interesses”, disse uma fonte que participa das negociações. O documento é importante porque servirá de base para as regras de implantação do sistema digital. “Se a proposta oficial agradar, a gente leva ao presidente Lula”, afirmou outra fonte oficial.
Os japoneses resistem a assumir desde já o compromisso com a utilização dessas tecnologias antes da conclusão dos estudos. “Acho que não é possível estabelecer um cronograma no documento”, afirmou Miyoshi, após a reunião, admitindo a possibilidade de se comprometer com o estudo de viabilidade.
Representantes do governo defendem a idéia de que o Brasil precisa ser visto não só como um mercado consumidor, mas como fonte de desenvolvimento de tecnologia. E querem que as inovações brasileiras sejam absorvidas pelo menos no sistema que será adotado aqui e nos televisores que vierem a ser exportados. Entre as inovações está o sistema de compressão de sinais de vídeo (MPEG4). “Eles estão ganhando um mercado de 11 milhões de televisores”, disse um dos participantes das negociações, sobre o mercado local.
Mas o governo já faz uma avaliação mais realista quando se trata da instalação de uma fábrica de semicondutores. As últimas análises mostram que uma indústria dessas pode levar até cinco anos para começar a produzir. Antes, é necessário criar um mercado para esses chips e mão-de-obra qualificada. As negociações envolvem a montagem de três centros de desenvolvimento tecnológico que seriam os primeiros passos para a implantação dessa fábrica no Brasil.
As discussões com os japoneses prosseguem hoje e amanhã.
Gerusa Marques / O Estado de S. Paulo
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