Segundo ministro, com saída de Lacerda, operações de combate à corrupção e ao crime vão evitar “exposição pública” dos que são presos

O ministro da Justiça, Tarso Genro, anunciou ontem que, apesar da troca de comando, a Polícia Federal continuará realizando operações de impacto no combate à corrupção e ao crime organizado, mas doravante sem pirotecnia. Ele disse que as operações serão feitas com a preocupação de “evitar a exposição pública” (dos que são presos), a fim de preservar a privacidade das pessoas e “evitar injustiças que às vezes ocorreram com pessoas que foram expostas e depois inocentadas”.

A mudança no formato das megaoperações vinha sendo reclamada por diversos setores da sociedade, sobretudo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que alegava abusos contra direitos dos clientes.

Tarso disse que o delegado Paulo Lacerda deixou o comando da corporação porque quis, mas observou que ele realizou um trabalho “extraordinário” e vai dar seqüência às ações de combate ao crime em um novo posto. “É um homem que tem a confiança do Estado e goza de todo prestígio junto ao presidente Lula, que o convidou para nova missão, a diretoria da Abin (Agência Brasileira de Inteligência)”.

O ministro negou que a saída de Lacerda da PF esteja ligada a divergências sobre seus métodos de trabalho. “Não houve nenhum ponto de choque. O trabalho com Lacerda sempre foi coordenado e articulado conosco”, afirmou o ministro. De acordo com ele, com a ida do delegado para a Abin, a agência “será revigorada e fortalecida”.

ROTATIVIDADE

Lacerda confirmou ter deixado o comando da Polícia Federal por iniciativa própria. Disse que a saída estava decidida desde o fim do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois entende como “salutar” a rotatividade, sobretudo em postos policiais. Para o lugar dele, foi designado o também delegado Luiz Fernando Corrêa, que responde pela Secretaria Nacional de Segurança Pública. Os dois tomam posse na segunda-feira.

Para o lugar de Corrêa, Tarso disse que convidou o atual secretário nacional de Justiça, Antônio Carlos Biscaia, ex-deputado e ex-promotor público. Caso aceite, ele vai gerenciar o Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), cujo orçamento é da ordem de R$ 6,7 bilhões.

Mas a indicação de Biscaia não foi bem recebida por alguns órgãos da área de segurança pública.

REAÇÃO

Por meio de nota, as Associações dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol) e sua filial de São Paulo (Adepesp) repudiam a indicação do ex-deputado para o cargo. As duas entidades consideram a escolha de Biscaia para o comando da Secretaria Nacional de Segurança Pública “um desserviço”, uma vez que ele não é da área. “É preciso que o setor seja dirigido por um profissional de segurança, o momento é delicado”, criticou o presidente da Adepol, Carlos Eduardo Benito Jorge.

Vannildo Mendes

O Estado de S. Paulo

31/8/2007