Entrevista: Luiz Fernando Corrêa: diretor-geral da Polícia Federal

Há um mês no cargo, Corrêa afirma que tem ‘total autonomia’ e dará prioridade à área de inteligência

“A Polícia Federal atingiu um status e uma capacidade de investigação que ninguém consegue impor qualquer nível de pressão sobre ela”, afirmou o delegado Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da PF. Há um mês no cargo, Corrêa busca executar uma filosofia de trabalho que enfatiza o aprimoramento da área de inteligência e a produção de provas. A seguir, trechos da entrevista.

O do crime organizado o assusta?

Assusta enquanto cidadão. O que nos tranqüiliza diante do desafio é a articulação federativa histórica que existe hoje. O que acha das operações espetaculares?

Não sei o que vocês consideram espetacular. Acho uma grande operação a que fizemos agora, em parceria com a Anvisa (a operação desarticulou esquema de fraudes envolvendo médicos e fabricantes de próteses adulteradas). O que importa é o bem jurídico, a saúde pública que foi atendida. A corrupção tem controle?

O que temos é uma percepção dela porque está sendo combatida frontalmente. A articulação com os órgãos de controle tem sido fundamental.

Questiona-se muito a polícia sobre o sistema do prende-e-solta. Poucos são os acusados de corrupção que ficam atrás das grades.

As operações são eficazes porque, inclusive, informam a opinião pública. As prisões cautelares têm um papel: prende-se para produzir provas. Cumprida essa etapa o cidadão responde processo em liberdade. Num país democrático a regra é a liberdade, a prisão é a exceção. O que faz manter ou não alguém preso após sua condenação, ou no curso da ação penal, é a qualidade da prova.

Até onde vai a independência do diretor-geral da PF?

Temos total autonomia. O ministro (Tarso Genro, da Justiça) só tomou conhecimento dos diretores que escolhi duas horas antes da minha posse. Constituí minha equipe com plena liberdade. E a independência da PF, é real?

A PF atingiu um status e uma capacidade de investigação que ninguém consegue impor qualquer nível de pressão sobre ela. O papel do diretor é blindar a instituição. E o que blinda, mais ainda, é uma prova bem produzida. Prova contundente não permite ingerência sobre o trabalho da polícia.

O que significa, na prática, a atuação da inteligência?

É a área central da PF. O objetivo maior é a prova, é a razão de ser da polícia. Venho da área de inteligência, que vai continuar sendo desenvolvida porque a partir dela se produz prova de qualidade.

O grampo basta como prova?

Não. O grampo é uma das ferramentas de investigação. Quando se fala em inteligência temos que usar várias ferramentas. Temos a vigilância, a análise financeira.

Muitos alvos da PF reclamam contra a devassa fiscal e bancária a que são submetidos.

O sigilo é uma garantia individual e constitucional. Quando produzo uma boa inteligência gero argumentos para uma representação pela quebra do sigilo. Se eu tiver bons argumentos, e uma boa investigação, o juiz vai acolher.

Teme pressões políticas?

Não. Nós blindamos a instituição a pressões políticas com robusta produção de provas.

Fausto Macedo

O Estado de S. Paulo

5/10/2007