A grande maioria dos 87 deputados notificados pela CPI das Sanguessugas terá os registros de suas candidaturas assegurados pelos partidos a que pertencem. As alegações dos dirigentes partidários para não cassar a legenda desses deputados são parecidas: as provas ainda não são conclusivas e o prazo eleitoral é exíguo. Amanhã é o último dia para a troca de candidatos a deputado federal.
É, porém, o pragmatismo que pesa mais. Os partidos, em especial os menores, admitem que dependem dos votos de deputados já conhecidos para tentar ultrapassar a cláusula de barreira, que entrará em vigor este ano. Por esta regra, os partidos precisam ter o mínimo de 5% dos votos para deputado em todo o país para garantir o pleno direito de funcionamento.
O presidente do PTB, Flávio Martinez, disse que o partido ainda aguarda as acusações contra seus 17 deputados e está ouvindo suas defesas.
— Claro que denúncias nesta época eleitoral são desagradáveis, mas temos que dar chance de defesa. Não estamos capacitados para exercer um veredito neste momento, não temos claramente a posição sobre todos os deputados — disse Martinez. — E temos a cláusula de barreira. Não é tirar um e colocar o outro, as pessoas têm seus redutos.
É um problema que afeta também o PL (18 deputados notificados) e PSB (seis notificados) e outros partidos menores. O PSB abriu processo contra os seis no Conselho de Ética do partido, mas os processos só serão concluídos a médio prazo. A orientação do partido é não punir seus deputados apenas com base na imprensa.
PMDB ainda discute o que fazer
O PMDB, que tem 11 parlamentares envolvidos, enfrenta mais dificuldades para discutir o que fazer, já que entre os notificados pela CPI estão o secretário-geral do partido, Saraiva Felipe (MG), e o líder no Senado, Ney Suassuna (PB), que integram a Executiva Nacional.
Os casos dos nove deputados do PFL que integram a lista da CPI serão decididos pelas executivas estaduais, segundo o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC).
— As medidas tomadas serão comunicadas à Justiça Eleitoral. Mas devem valer só pelo aspecto externo. As pessoas poderão recorrer e manter seus registros.
No PT, o presidente do partido, Ricardo Berzoini (SP), disse que os dois notificados — Serys Slhessarenko (MS) e João Grandão (MS) — serão ouvidos primeiro.
— Essas pessoas ainda não foram julgadas. As listas podem penalizar eleitoralmente pessoas que podem não ter culpa — disse Berzoini.
Preocupado com a repercussão eleitoral do envolvimento de seis parlamentares tucanos, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), chegou a ameaçá-los de expulsão, mas depois baixou o tom.
— Vamos nos reunir para discutir que tipo de postura o PSDB deverá assumir diante das denúncias, das provas apresentadas e da defesa de cada um dos envolvidos — confirmou o deputado Alberto Goldman (SP), vice-presidente do PSDB.
Semana passada, Tasso pediu ao deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) que faça um relatório informal sobre a situação de cada tucano notificado pela CPI dos Sanguessugas, reunindo todo o material já publicado na imprensa e as provas disponíveis na comissão parlamentar de inquérito. Antes de apresentar seu relatório, Fruet pretende conversar hoje com o sub-relator de sistematização da CPI, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). É pouco provável, contudo, que o partido tenha condições de negar legenda a algum dos envolvidos.
Isabel Braga e Adriana Vasconcelos
O Globo
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