O descaso do Governo Federal para com os servidores da PF mereceu destaque durante a reunião da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado na Câmara dos Deputados realizada na última quarta-feira (17). Para que as diversas categorias do órgão frisassem sua insatisfação, os deputados concederam a palavra aos representantes classistas da PF, que criticaram duramente o tratamento dispensado pelo governo à instituição.
O convite aos sindicalistas partiu do vice-presidente da Comissão, deputado Fernando Francischini (PSDB/PR), com o aval do presidente Mendonça Prado (DEM/SE) e dos demais parlamentares que integram a comissão. Na avaliação dos deputados, as críticas de integrantes do Governo Federal à atuação da PF na Operação Voucher – que resultou na prisão de 36 pessoas suspeitas de desviar verbas do Ministério do Turismo – necessitavam de um contraditório por parte dos servidores.
O presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), Hélio Buchmüller, destacou que a atuação da PF está pautada em leis e convenções internacionais. Na opinião dele, os governantes precisam enxergar a PF como um investimento, pois o trabalho desenvolvido pelo órgão desmancha quadrilhas inteiras e devolve bilhões de reais aos cofres públicos ano após ano. “A Polícia Federal não dá prejuízo. Ela dá lucro”, pontuou.
O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Bolivar Steinmetz, manifestou preocupação com a proximidade dos grandes eventos esportivos internacionais que o Brasil irá sediar – Copa do Mundo em 2014 e Jogos Olímpicos em 2016. Ele alertou para o fato de que eventos desse porte demandam o aumento do efetivo da PF e fez críticas à política de terceirização vigente no órgão. “Nossos administrativos estão sendo preteridos em nome de profissionais sem nenhum comprometimento com o serviço público. Isso precisa acabar”.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marcos Wink, destacou que as reações em relação ao uso da algema sempre ocorrem quando as prisões atingem pessoas do alto escalão do governo ou da sociedade empresarial. “Diariamente, prendemos pessoas com algemas e não há essa repercussão da imprensa”, constatou. Para Wink, o Governo deve garantir a autonomia da PF, para que o órgão tenha condições de continuar crescendo em benefício da sociedade brasileira. “Não estamos brincando de fazer polícia. Precisamos ser respeitados”, protestou.
A última representante classista a fazer uso da palavra foi a presidente do SINPECPF, Leilane Ribeiro de Oliveira, que fez o mais duro discurso sobre a atual situação do órgão. Na opinião da presidente, ao ignorar os apelos dos servidores da PF, o governo coloca a segurança pública em segundo plano. “Qualquer missão desempenhada pela PF hoje é e em favor da sociedade brasileira, em prol da segurança pública. Mas há cortes de despesas e de diárias, e nossas fronteiras estão abandonadas. Estamos muito preocupados com a atual situação do órgão, em virtude do descaso e da omissão do governo”, disse a presidente em tom de protesto.
A presidente também atacou a proposta de substituição da mão de obra terceirizada existente no órgão por servidores temporários. “Isso é um absurdo. Ao fazer isso, o governo faz exatamente o contrário do que prometeu durante as eleições, que era priorizar a segurança. A PF precisa ser valorizada”, finalizou.
Reação dos Parlamentares – O tom de desabafo das declarações dos sindicalistas da PF sensibilizou os parlamentares da Comissão de Segurança Pública. Para o deputado Lourival Mendes (PTdoB/MA), se o governo alega falta de recursos para os órgãos de segurança, é porque a segurança realmente está em segundo plano. “Temos que fortalecer a estrutura da Polícia Federal, porque se falta dinheiro hoje no país, é por conta da corrupção!”, avaliou.
O deputado Pastor Eurico (PSB/PE) avalia que os deputados precisam agir em defesa da PF, em especial combatendo a terceirização praticada no órgão. A opinião é compartilhada pelo deputado Alberto Filho (PMDB/MA), que ratificou seu compromisso em liderar os trabalhos do Grupo de Trabalho que irá investigar os contratos com empresas terceirizadas mantidos pela PF.
Os deputados Enio Bacci (PDT/RS), José Augusto Maia (PTB/PE), João Campos (PSDB/GO) e Otoniel Lima (PRB/SP) também defenderam que os servidores da PF sejam devidamente valorizados pelo governo.
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