Investigação abrange 380 mil ligações feitas do palácio, mas não inclui telefones de Lula
Na busca para levantar toda a rede de envolvidos no dossiê Vedoin, a Polícia Federal rastreou, com autorização judicial, 380 mil ligações que partiram de 100 telefones do Palácio do Planalto. Ao confirmar a informação, ontem, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que entre essas linhas não foram incluídas as do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo o ministro, só o Supremo Tribunal Federal (STF) tem competência para rastrear telefones do presidente, por requisição do procurador-geral da República. Mas algumas das linhas alcançadas pela investigação são utilizadas por assessores diretos de Lula, entre eles o chefe do gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho.
Algumas ligações rastreadas são para petistas envolvidos no escândalo da compra do dossiê, entre os quais o ex-chefe do serviço de inteligência da campanha de Lula, a chamada Abin do PT, Jorge Lorenzetti. “As pessoas envolvidas no dossiê são petistas – a PF já desvendou isso – e é natural que ligassem para outros petistas no governo”, argumentou o ministro.
Bastos explicou que todo o esforço de investigação, que inclui a ampla devassa nos telefones do Palácio do Planalto, é no sentido de levantar a origem do dinheiro. Mas ele não admite leituras apressadas nem uso eleitoreiro do trabalho da PF. “É uma investigação séria, extensa, difícil e que tem que ser feita com muito cuidado. Não pode nem vai ser distorcida pela paixão eleitoral daqueles que estão perdendo a eleição.” Os extratos telefônicos ainda estão sendo analisados por técnicos da PF e não há previsão de que o resultado seja divulgado antes da eleição de domingo.
Durante a investigação foram processadas 1,6 milhão de transações financeiras, a partir do cruzamento de 43,7 mil contas.
No total, foram processados 66,2 mil dados. E foram rastreadas 2,8 milhões de chamadas telefônicas de 56 mil aparelhos, incluindo aí os 100 do Planalto.
O principal objetivo do inquérito, nesta nova etapa que começou ontem, é desvendar a origem do R$ 1,75 milhão destinado à compra do dossiê.
Bastos negou que seja do PT a culpa pelo escândalo do dossiê. Segundo ele, a responsabilidade é de um grupo isolado de petistas. “Foram pessoas que montaram um grupo de inteligência entre aspas e que fizeram isso. É o que se encontra nos autos”, afirmou.CONTATOS
Em Cuiabá, alguns dos policiais envolvidos na investigação também consideraram “natural” que o rastreamento indique contatos dos envolvidos na compra do dossiê com assessores de Lula. “O que seria anormal é gente do PSDB ficar ligando para o Palácio do Planalto”, comentou um agente. Os números de Gilberto Carvalho, secretário particular do presidente, estão na lista sob análise dos técnicos da PF. Eles estão levantando os contatos feitos a partir dos números de Carvalho. “Pode ser tudo, mas também pode ser nada”, ressalvou um policial.
A PF considera que os quadros petistas já identificados lançaram mão, no auge da empreitada, entre os dias 10 e 15 de setembro, de “telefones seguros” – fixos ou móveis que não são do uso cotidiano dos suspeitos. A estratégia foi adotada para evitar o risco de um eventual monitoramento da PF. “Todos os investigados fazem assim”, lembrou um federal.
Vannildo Mendes
O Estado de S. Paulo
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