Mais uma vez o SINPECPF roubou a cena em audiência pública para debater os problemas que afligem a PF. Desta vez, o palco foi a Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul, que promoveu na quinta-feira (6) debate intitulado “Policiais federais motivados, sociedade protegida”. Em discurso inspirado, a diretora financeira do sindicato, Laira Giacomett de Carvalho, mostrou que o mesmo raciocínio se aplica à categoria administrativa, e que a desmotivação no setor acarreta perda de eficiência para a PF como um todo.
A representante do SINPECPF iniciou sua fala explicando aos presentes que os servidores administrativos da PF são encarregados por toda a estrutura de apoio necessária para a execução das atividades policiais e também por atividades de caráter finalístico, tais como a expedição de passaportes e o controle de entrada de produtos químicos no país. “Sem essas atividades de suporte logístico, a PF não funcionaria adequadamente”, frisou.
Após enfatizar a importância da categoria, Laira revelou parte dos problemas enfrentados hoje pelo PECPF. Destacou o baixo efetivo: pouco mais de 2500 servidores, 17% do efetivo da PF (menor percentual em 30 anos) e justificou o número em função da remuneração defasada, das condições inadequadas de trabalho e da falta de perspectivas de melhorias. “Há anos lutamos por valorização profissional e tudo o que recebemos até então do governo foram promessas”, lamentou em tom de protesto.
O discurso da diretora Laira Giacomett obteve grande destaque na audiência.
Os desvios de função de policiais e a terceirização irregular também foram atacados. Laira chamou as práticas de “soluções tapa-buraco”, mostrando o contrassenso que é deslocar policiais de ações de combate ao crime para o trabalho administrativo. “Quando Vossas Excelências pensarem sobre o aumento da violência, avaliem o número de policiais federais que deixam a fronteira do Mato Grosso do Sul para trabalhar em atividades administrativas. Isso porque o governo federal reluta em reconhecer o valor do servidor administrativo da Polícia Federal”.
De acordo com a sindicalista, ainda pior que desviar os policiais de função é repassar as tarefas administrativas para funcionários terceirizados. Além de lidar com o despreparo da maioria desses profissionais, a PF estaria assumindo o risco de vê-los cometer ilícitos. “Isso é um perigo. Essas pessoas têm acesso a informações sigilosas. Algumas, sem preparo, são facilmente corrompidas e representam um risco para a sociedade brasileira”.
Ao final do discurso, Laira solicitou o apoio dos parlamentares sul-mato-grossenses à reestruturação da carreira administrativa. “Nosso projeto está em análise no Ministério do Planejamento e precisa ser concretizado, não apenas em benefício da nossa categoria, mas de toda a sociedade brasileira”.
Outros pontos de vista – O debate aconteceu após solicitação do Sinpef/MS (Sindicato dos Policiais Federais no MS). O apelo, atendido pelo presidente da Casa de Leis, deputado estadual Jerson Domingos (PMDB), em parceria com o deputado Maurício Picarelli (PMDB), vice-presidente da Assembleia, reuniu representantes nacionais da categoria, além de promotores, parlamentares e o juiz federal Odilon de Oliveira.
Também participaram do evento a ONG “Mães da fronteira”, movimento criado por Lilian Silvestrini e Angela Fernandes, mães de jovens mortos por criminosos que atravessaram as fronteiras do Mato Grosso do Sul, e que visa lutar contra a violência e a impunidade nas regiões fronteiriças do estado e de todo o Brasil. De acordo com elas, os criminosos só foram pegos em razão da dedicação dos policiais federais, que superaram diversas adversidades durante a perseguição.
A maçonaria de Campo Grande também esteve presente e manifestou o apoio à luta dos servidores da PF.
Para o presidente da Fenapef, Jones Borges Leal, a PF passa pela pior crise da sua história. “O efetivo é insuficiente para suprir a demanda, as condições de trabalho são precárias e as unidades estão sucateadas”, apontou.
A diretora do Sindicato dos Policiais Federais de Foz do Iguaçu, no Paraná, Bibiana De Oliveira Orsi Silva, apontou a insuficiência de policiais nas regiões de fronteira, em parte em decorrência dos desvios de função. Segundo ela, hoje cada policial federal que atua nessas regiões é responsável pelo patrulhamento diário de 32 quilômetros de divisas. “Como conter o crime organizado assim?”, questionou.
Para o juiz federal Odilon de Oliveira, o serviço de inteligência da PF caiu de produção. “Antigamente, as solicitações para realização de monitoramento telefônico, por exemplo, eram frequentes. Neste ano, nenhuma solicitação foi feita para a vara em que sou o titular”. Ele avalia a situação como reflexo do sucateamento da Polícia Federal.
Para o presidente da Assembleia Legislativa do MS, deputado Jerson Domingos, a situação é crítica. “Infelizmente não temos competência para legislar sobre o assunto, entretanto, iremos empenhar esforços junto à bancada nacional para buscar soluções para o problema”.
Jerson garantiu, ainda, que encaminhará uma cópia da gravação da audiência pública para todas as assembleias legislativas do país, a fim de que debates como este ocorram nacionalmente.
“A situação é preocupante e do conhecimento de poucos. Temos que lutar pelo interesse da população brasileira que quer segurança. Não podemos permitir que cidadãos de bem tenham que se enclausurar em suas casas enquanto o crime organizado toma conta do país”.
Com informações do Portal ALMS
Foto: Diretoria de Comunicação Social/ALMS
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