O presidente de Cuba, Fidel Castro, 79, foi submetido a uma cirurgia no intestino e deixou pela primeira vez o controle do governo cubano. Em comunicado lido nesta segunda-feira, Fidel delegou provisoriamente o governo a seu irmão Raúl Castro, 75.
No comunicado oficial, assinado pelo próprio Fidel, o presidente cubano afirma ter passado por uma “uma crise intestinal aguda com sangramento sustentado”, que o obrigou a “uma complicada intervenção cirúrgica”.
“A operação me obriga a permanecer várias semanas em repouso, afastado das minhas responsabilidades e cargos”, afirma a nota oficial, lida pelo secretário particular de Fidel, Carlos Valenciaga, em emissoras de rádio e televisão de Cuba.
Fidel, que completará 80 anos no dia 13 de agosto, governa Cuba desde 1959. No comunicado, o líder cubano pede que as comemorações do seu aniversário sejam adiadas para 2 de dezembro.
O líder cubano atribui o problema de saúde à agenda sobrecarregada, que incluiu visitas à Argentina, onde participou da Cúpula do Mercosul, e a cidades da região leste de Cuba. “Dias e noites de trabalho contínuo, sem dormir, fizeram a minha saúde, que tem resistido a todos os testes, se submeter a um estresse extremo, e se quebrar”, diz o líder de Cuba na nota oficial.
Por meio do mesmo comunicado, outros membros do PCC (Partido Comunista de Cuba), como Carlos Lage, Esteban Lazo, Josî Ramón Balaguer, Josî Ramón Machado Ventura, Francisco Soberón e Felipe Pîrez Roque receberam tarefas prioritárias –para alguns analistas, eles devem funcionar como uma equipe de sucessão.
Em outubro de 2004, o líder cubano sofreu uma queda durante um ato público na localidade cubana de Santa Clara e fraturou um joelho e um braço.
Raul
Raúl Castro passou quase 48 dos seus 75 anos de vida como o número dois do governo cubano, apesar de lhe faltar o carisma e a habilidade política de Fidel.
Ministro das Forças Armadas Revolucionárias, segundo secretario do Partido Comunista, primeiro vice-presidente dos Conselhos de Estado e Ministros, Raúl tornou-se o substituto designado por seu irmão mais velho, por quem sempre demonstrou admiração e afeto.
Estudante de Economia, Raúl participou com o irmão ao assalto ao Quartel de Moncada, em 1953 –uma tentativa frustrada de derrubar o ditador Fulgencio Batista. Foi um dos primeiros rebeldes da Sierra Maestra e, logo que a revolução cubana deslanchou, em janeiro de 1959, foi nomeado segundo chefe do movimento.
Para alguns analistas, Raúl não tem a habilidade política, a saúde ou mesmo a ambição para suceder integralmente seu irmão. Segundo esta visão, Raúl atuaria como uma figura de transição em direção a uma nova liderança, mais jovem e possivelmente mais aberta.
Repercussão nos EUA
Nos EUA, o porta-voz da Casa Branca, Peter Watking, disse que o governo americano está “monitorando” a situação em Cuba. “Não queremos especular sobre sua saúde. Continuaremos trabalhando para que um dia Cuba seja livre”, disse o porta-voz .
Já o congressista republicano Lincoln Díaz-Balart afirmou que a passagem provisória do poder de Fidel Castro a seu irmão significa que “o fim da tirania se aproxima”.
“Um sistema totalitário é capaz de qualquer mentira, mas sabemos com segurança que o fim da tirania se aproxima”, afirmou o congressista republicano, eleito pela Flórida.
Em Miami, dezenas de pessoas da comunidade cubana reagiram com alegria. reunindo-se para “comemorar” a notícia, tocando buzinas e gritando “Viva Cuba” e “Liberdade”.
Muitos cubanos dissidentes, contudo, reagiram com surpresa e ceticismo. “Existem grandes expectativas dentro e fora da ilha e por enquanto é preciso esperar o alcance da doença”, afirmou Ramón Saúl Sánchez, presidente do Movimento Democracia. “A presença de Raúl Castro no poder é algo preocupante, porque de certa forma pode provocar reações muito duras”, acrescentou Sául Sánchez.
O professor Jaime Suchlicki, do Instituto de Estudos Cubanos e Cubano-Americanos da Universidade de Miami, disse que a sucessão já começou. Para ele, “é uma sucessão de fato” o que aconteceu em Cuba.
“Raúl Castro está administrando o país”, disse Suchlicki, um dos mais respeitados especialistas americanos em assuntos cubanos. Para ele, Fidel Castro está em sua etapa final; seu irmão manterá o poder e “ficará no cargo por algum tempo”, acrescentou.
Suchlicki comentou que o momento é “definitivamente” difícil para a oposição dentro da ilha. “Os aparelhos de segurança do estado se encontram em estado de alerta e é um momento muito difícil para a oposição”.
Bolívia
O presidente da Bolívia, o socialista Evo Morales, enviou nesta terça-feira uma carta a Fidel Castro desejando a “pronta recuperação” de Fidel após a operação a que foi submetido.
Morales, em nome do governo e do povo bolivianos, manda ao líder cubano “toda a solidariedade” e seu desejo de uma “pronta recuperação”.
“Temos certeza de que, com a fortaleza que demonstrou ao longo de sua exemplar trajetória, superará este novo problema para continuar na trincheira da luta antiimperialista”, afirma o documento.
Morales, que se recupera de uma fratura no nariz que sofreu no domingo, durante um jogo de futebol, tinha convidado Castro para assistir à instalação da Assembléia Constituinte boliviana, no próximo domingo.
O último encontro entre os dois líderes foi em Córdoba, Argentina, durante a Cúpula do Mercosul, dia 21 de julho –um dos encontros que teria debilitado a saúde de Fidel, segundo o documento oficial do líder cubano.
da Folha Online
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