Em operações simultâneas, polícia conseguiu a maior vitória desde que a facção iniciou onda de violência, em maio
A polícia desarticulou ontem a tesouraria do tráfico de drogas do Primeiro Comando da Capital e do bicho-papão, o dinheiro da venda de entorpecentes destinado à cúpula da facção. O Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) deteve 21 acusados de participar da organização, entre os quais a advogada Maria Cristina Rachado, que defendia o líder máximo do grupo, Marcos Camacho, o Marcola.
A ação começou às 14h30 de anteontem, quando investigadores do Deic chegaram à Rua Sinfonia Branca, na Lapa, zona oeste, onde funcionava a tesouraria do tráfico. Segundo o delegado Ruy Ferraz Fontes, lá se administrava o dinheiro e se fazia os pagamentos pelos serviços da advogada de Marcola.
Quatro acusados foram presos no local. Dois são importantes na facção: Marilene Simões, a Marlene, de 33 anos, e Leandro Souza de Queiroz, o Leandrinho. Marlene recebia ordens dos presos Ronaldo de Simone, o Elefante Branco, e Davi Magalhães, o Mago. Ambos têm o cargo de sintonia geral do PCC, função de quem é encarregado de repassar as ordens da cúpula para as células nas ruas. Ronaldo de Simone é irmão de outro cabeça do PCC, Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, apontado como provável substituto de Marcola.
Marlene administrava a contabilidade. Registrava num livro a origem do dinheiro que recebia e o destino da droga para os pontos-de-venda no Estado. Leandro fiscalizava Marlene, pegava o dinheiro e lhe dava o destino final. Na Lapa foram apreendidos 21 quilos de cocaína e R$ 35 mil, dinheiro de dois dias de tráfico. Em junho, o bicho-papão ficou em R$ 224 mil.
Marlene foi flagrada em escutas preparando atentados contra ônibus na quinzena passada. E era quem financiava os ataques. “Ela era acordada de madrugada para receber os salves (ordens) para quebrar tudo, atacar ônibus e matar policiais”, disse o delegado.
Em Pirituba, zona oeste, o Deic deteve um armeiro que trabalhava para o PCC e apreendeu um fuzil e três espingardas. Os policiais ainda fizeram prisões no interior, em Sumaré e Cajamar, onde foi detido Alex Claudino Reis, piloto (gerente) do PCC na zona oeste. Mais da metade dos presos participou dos ataques de maio e de julho.
A advogada de Marcola foi detida sob a acusação de formação de quadrilha ontem de manhã em casa, na Casa Verde, zona norte. Maria Cristina não queria acompanhar os policiais, mas acabou sendo levada à sede do Deic. Negou todas as acusações. Contra ela, os policiais dizem ter provas de que usava integrantes do PCC para ameaçar desafetos. É acusada de pagar R$ 200,00 a um funcionário do Congresso em troca de cópias de depoimentos sigilosos de delegados na CPI do Tráfico de Armas.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) informou que a nova acusação contra Maria Cristina será analisada no processo ético e disciplinar aberto contra a advogada, após o suborno pelos depoimentos da CPI.
Maria Cristina é casada com o delegado José Augusto Rachado, que até maio era da Delegacia de Cartas Precatórias, na 4ª Seccional, na zona norte. O policial foi afastado das funções por 180 dias pela Delegacia-Geral de Polícia, no dia 25 daquele mês. No ano passado, quando era titular do 45º DP (Brasilândia), o delegado foi convocado a dar explicações sobre a morte do investigador Tito Carlos da Silva Pereira, durante a escolta de um preso.
Marcelo Godoy
O Estado de S. Paulo
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