Relatório parcial poupa direção nacional e propõe ouvir dirigentes estaduais e tesoureiro de Mercadante

Relatório parcial divulgado ontem mostra que a Polícia Federal concentra no PT paulista as investigações sobre o dossiê Vedoin, poupando a direção nacional do partido e o Planalto. A PF quer convocar para depor o presidente estadual do PT de São Paulo, Paulo Frateschi, o tesoureiro, Antônio dos Santos, e o coordenador financeiro da campanha do senador Aloizio Mercadante ao governo paulista, José Giácomo Baccarin.

A PF suspeita que o PT paulista teria contratado a compra do dossiê, com o objetivo de prejudicar a candidatura do tucano José Serra, eleito governador. A convocação dos três é sugerida no relatório parcial, entregue ontem pelo delegado Diógenes Curado ao juiz da 3.ª Vara Federal de Cuiabá, Jefferson Schneider, que autorizou a divulgação, sem as páginas protegidas pela lei do sigilo telefônico. “É preciso fechar todas as circunstâncias que envolvem os interessados na compra do dossiê, dentro da hipótese que trabalha o delegado”, explicou o superintendente da PF em Mato Grosso, Daniel Lorenz.

Segundo o relatório, “a PF não tem dúvida” da participação de Hamilton Lacerda, da cúpula da campanha de Mercadante, na compra do dossiê. As principais provas seriam imagens do circuito interno do Hotel Íbis Congonhas e relatórios da área de inteligência da PF dando conta de que ele teria usado o telefone da promoter Ana Paula Cardoso Vieira para articular a operação. O circuito de TV do Ibis mostra Lacerda com uma mala em 13 de setembro, dois dias antes da prisão dos petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos com R$ 1,75 milhão que seria usado para comprar o dossiê. A PF acredita que Lacerda levava o dinheiro na mala. Hoje, a CPI dos Sanguessugas, que também investiga o caso, deve ouvir Lacerda e Gedimar.

Com 5 páginas, o relatório da PF resume diligências do último mês e pede mais prazo para investigar. Ao contrário do que chegou a ser cogitado, não acusa o presidente licenciado do PT e coordenador da campanha do presidente Lula, deputado Ricardo Berzoini (SP), como mandante da compra do dossiê.

“Não trabalhamos com essa hipótese neste momento”, enfatizou Lorenz. Isso deixa Lula fora das investigações, por enquanto. Mesmo que Berzoini seja acusado, a responsabilidade criminal não pode ser transferida, a menos que ele confesse que agiu a mando de Lula, segundo explicou um policial.

Apesar de acusar Lacerda, a PF não o indiciou, nem aos outros cinco dirigentes petistas investigados. “É cedo para tecermos considerações sobre as outras pessoas que participaram da trama”, enfatiza o relatório.

Vannildo Mendes

O Estado de S. Paulo

Colaborou EUGÊNIA LOPES