Político ligado a Garotinho obtém liminar para realizar a convenção no dia 22, mas aliados do ex-governador nem apareceram para votar
Depois de meses de indefinição e conflitos internos, o PMDB sepultou ontem a candidatura própria à Presidência. O partido também não fará aliança no plano nacional: a opção é a de ficar livre nos Estados para compor com diferentes siglas.
O caminho escolhido pelo PMDB levou em conta a regra da verticalização, em vigor nas eleições deste ano por determinação do Tribunal Superior Eleitoral: o partido que estiver em uma aliança nacional não pode contrariá-la nos Estados.
A decisão foi tomada por unanimidade, 12 a 0, em reunião da Executiva Nacional. “Não tem outra saída a essa altura. É muito triste”, afirmou o senador Pedro Simon (PMDB-RS), pré-candidato do partido.
A polêmica, no entanto, ainda não está encerrada. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ligado ao ex-governador do Rio Anthony Garotinho, obteve uma liminar na Justiça para realizar a convenção do partido no dia 22. “É claro que o partido não descumprirá uma decisão judicial porque isso não é democrático”, disse ele.
O presidente do partido, Michel Temer (PMDB-SP), afirmou que vai recorrer da decisão. “O Judiciário não pode estabelecer uma data porque isso fere a autonomia do partido. Politicamente eu diria que a candidatura própria é inviável”, afirmou Temer.Garotinho
A cúpula do partido afirma que se a convenção for realizada, apenas dois diretórios estaduais compareceriam, o que inviabilizaria o evento. Integrantes da equipe de Garotinho afirmaram que ele está de acordo com a decisão tomada pela Executiva, porque seria “impossível a candidatura própria prosperar”. Segundo eles, um sinal foi o fato de Garotinho não ter comparecido à reunião. Ele já foi pré-candidato do partido e agora apoiava Simon.
Agora o partido se dividirá entre os apoios ao presidente Lula e ao candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. “Acho que a tendência é meio a meio, mas com pequena diferença a favor do PSDB”, disse Temer.
Apesar de ter aceitado a decisão, Simon criticou o comando partidário: “Estão todos com cargo no governo [Lula]. Isso pesou mais do que a candidatura à Presidência da República. Não há amor, dedicação pelo partido”, disse ele no Senado. “É uma legião estrangeira no comando. Eles não conseguem sentir a história do PMDB.”
Buscando uma saída honrosa para Simon, Temer propôs na reunião que fosse dado um prazo até sexta-feira para que a candidatura fosse retirada. A proposta foi contestada de imediato. “Queria que a Executiva assumisse o compromisso de encerrar esse assunto hoje [ontem]. Não há como encaminhar a candidatura própria e esse debate só serve para desgastar cada vez mais a nossa imagem”, disse o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE), ex-ministro das Comunicações. Ele concorrerá ao Senado aliado ao PT.
O PMDB teve ontem um raro momento de harmonia na reunião da Executiva. A única voz dissonante era a de Cunha. Simon já sabia da decisão a ser tomada. “Estamos dando como falecida a idéia da candidatura própria”, disse o deputado Moreira Franco (PMDB-RJ).
Fernanda Krakovics da Folha de S. Paulo
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