Peritos devem concluir até 14 de agosto o laudo que vai atestar se existiu venda de gado e se contas foram pagas com recursos do senador
Brasília – O Instituto Nacional de Criminalística (INC) da Polícia Federal recebeu ontem o último lote residual de documentos de defesa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que responde a processo por quebra de decoro parlamentar. A entrega do material estava sendo dificultada por órgãos do governo alagoano, controlados por aliados de Renan, e só foi feita, com atraso, mediante pressão do Conselho de Ética, onde corre o processo.
Com esses últimos dados, a Polícia Federal acredita ter condições de concluir até o próximo dia 14 o laudo que vai atestar se existiram as operações de venda de gado e, ainda, se o senador recebeu ou não a ajuda de um lobista para o pagamento de contas pessoais.
Para o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), o futuro político de Renan dependerá do laudo dos peritos da Polícia Federal. “Se o resultado for contra ele, dificilmente terá os votos necessários para manter o mandato”, previu.
O motivo, segundo o parlamentar goiano, é que a existência de notas frias, de operações falsas de compra e venda de gado ou de qualquer outro perjúrio resultará na constatação de que o senador não respeitou o decoro do cargo.
Demóstenes acha importante que os peritos procedam ao teste da contemporaneidade nos recibos assinados por Renan. A avaliação mostraria se as datas dos documentos coincidem com as de venda do gado ou são posteriores.
ATRASOS
Determinada há três semanas, a perícia da PF só começou na última quarta-feira, porque os documentos – notas fiscais com os canhotos, recibos, guias de transporte de animais, declaração de renda e outros papéis – foram entregues a conta-gotas.
O laudo é decisivo para o julgamento do processo. O senador alega inocência e já reiterou diversas vezes que não vai renunciar à presidência do Senado nem ao mandato.
A existência de notas fiscais frias, inclusive de empresas que nem sequer existem, entre os documentos entregues à perícia, no entanto, pode complicar a defesa de Renan. Entre os papéis colocados sob dúvida estão notas emitidas pelos frigoríficos GF Silva e Carnal Carnes, cujas inscrições na Fazenda estadual estavam extintas na época das operações.
Os documentos dessas duas empresas, por sinal, já haviam sido reprovados em laudo parcial feito pela Polícia Federal em 19 de junho.
Ao todo, foram formulados 30 quesitos sobre a evolução patrimonial do presidente do Senado, sobre seus rendimentos agropecuários e sobre a autenticidade dos documentos. Caso fique constatado que o senador mentiu, ele pode ser cassado e ter os direitos políticos suspensos por oito anos.
Vannildo Mendes
O Estado de S. Paulo
31/7/2007
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