A Polícia Federal prendeu ontem 35 doleiros nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás acusados de remeter dinheiro para fora do Brasil de forma ilegal. Também cumpriu 56 mandados de busca e apreensão de documentos em casas de câmbio e em escritórios de empresas envolvidos com os doleiros.

Batizada de “Operação Tigre”, a ação da Polícia Federal contou com a participação de 400 policiais. O objetivo era prender 46 pessoas e cumprir 78 mandados de busca e apreensão nos três Estados.

A PF suspeita que houve vazamento de informações porque esperava prender mais pessoas e realizar mais apreensões, segundo a Folha apurou.

Foram aprendidos US$ 711 mil, R$ 940 mil e 170 mil.

Os mandados foram expedidos, a pedido do Ministério Público Federal de São Paulo, pela 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, especializada em lavagem de dinheiro.

Após seis meses de investigação, policiais constataram que os doleiros operavam com empresas de câmbio que não tinham autorização do Banco Central. Empresas de fachada também eram utilizadas para fazer operações de saída e de entrada de dinheiro no Brasil.

“Eles transferiam valores para o exterior e também traziam dinheiro para o Brasil por meio de empresas de fachada e nem sequer tinham autorização para funcionar”, afirmou Ricardo Saadi, delegado da unidade de análise da Delefin (Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros) da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo.

O dinheiro que os doleiros operavam, segundo informa, “é certamente fruto de atividade ilícita, como descaminho, contrabando e tráfico de drogas. Quem opera com dinheiro lícito faz operações de forma lícita, registradas no BC”, disse.

Os 35 doleiros ficarão presos na sede da PF em São Paulo por cinco dias para serem ouvidos –esse prazo pode ser prorrogado por mais cinco dias. Pode ser decretada ainda a prisão preventiva dos doleiros –nesse caso, não há prazo determinado para a saída do preso.

Os policiais constataram que os 35 doleiros estavam de alguma forma interligados. Eles operavam como se fossem pequenas células, mas sempre da mesma forma. Havia transferência de dinheiro entre clientes das casas de câmbio.

Para dificultar a ação dos policiais, as casas de câmbio também realizavam operações lícitas. Roberto Troncon, chefe da Delefin, informa que toda a documentação apreendida será analisada e que as empresas e pessoas físicas que participaram do esquema com os doleiros serão investigadas.

Troncon informa que ontem 15 contas correntes de empresas e de doleiros envolvidos no esquema foram “congeladas”. “A nossa prioridade é essa, atacar a estrutura das organizações criminosas”, afirmou.

Pelo menos três dos doleiros presos ontem tiveram envolvimento com o doleiro Antonio de Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, que foi condenado à prisão pela Justiças Federais de São Paulo e do Paraná. Entre 1996 e 2002, Barcelona movimentou US$ 500 milhões, segundo a CPI do Banestado. Toninho foi preso durante a “Operação Farol da Colina”, em agosto de 2004, quando outros 70 doleiros brasileiros também foram detidos.

China

Em São Paulo, foi preso Hu Zhon Ngwei, funcionário da Câmara de Comércio de Desenvolvimento Internacional Brasil-China, localizada no centro de São Paulo.

Policias federais informam que Ngwei fazia a ligação entre comerciantes e doleiros envolvidos na remessa ilegal de dinheiro para o exterior. Ontem, o site da câmara de comércio retirou da internet a relação de seus diretores. Os responsáveis pela câmara não foram localizados ontem pela Folha.

“Infelizmente, os chineses também fazem pirataria de câmaras de comércio montando entidades com nomes semelhantes em busca de legitimidade”, diz Charles Teng, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China, entidade que informa representar 346 empresas no país. “Desconhecemos essa pessoa e não temos ligação com doleiros.”

Dos 35 doleiros presos ontem, 24 operavam em São Paulo; sete, em Minas Gerais, e quatro, em Goiás. Os acusados são investigados pela prática de crimes contra o sistema financeiro, contra a ordem tributária, por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Fátima Fernandes e Cláudia Rolli

Folha On-line