Superintendente de Mato Grosso afirma estar perto de conseguir provas materiais para esclarecer caso do dossiê
A Polícia Federal encontrou fortes indícios de que parte do dinheiro que seria utilizado pelos petistas para a compra do dossiê contra candidatos tucanos tem como origem o jogo do bicho no Rio de Janeiro, como tinham informado semana passada parlamentares da CPI dos Sanguessugas. O superintendente da Polícia Federal em Mato Grosso, delegado Daniel Lorenz de Azevedo, deu pistas nesse sentido durante entrevista ontem, em Cuiabá:
— Houve basicamente a comprovação de uma tese. Nós precisamos agora de prova material — disse o delegado.
Polícia tem ajuda de colaborador
Para avançar na investigação sobre a origem do dinheiro, a PF está contando com a colaboração de uma pessoa que teve envolvimento no caso. O nome desse colaborador é mantido sob sigilo. Perguntado pela imprensa sobre se a tese confirmada pela PF é a de que os recursos seriam provenientes do jogo do bicho, como os parlamentares da CPI dos Sanguessugas informaram, Lorenz comentou:
– Não somente isso, mas várias teses.
O delegado deu a entender que, nos últimos dias, a PF tem mesmo contado com a colaboração de um informante.
— Há pessoas de dentro da operação que estão colaborando com a polícia, dando indicações bastante precisas. Só precisamos de um pouquinho de sorte.
Segundo o delegado, nos próximos dias a PF pode chegar a uma conclusão definitiva sobre a origem do dinheiro. Na semana passada, depois de conversarem com o delegado Diógenes Curado Filho, que preside o inquérito, deputados da CPI dos Sanguessugas foram os primeiros a dizer que a PF trabalha com a hipótese de que parte do dinheiro arrecadado pelo PT para a compra do dossiê tenha vindo do bicho.
Três indícios levaram os policiais a essa suspeita, segundo os parlamentares: há no dinheiro apreendido pela PF muitas cédulas usadas e de pequenos valores, como R$5, R$10 e R$20, e duas fitas que envolviam maços de dinheiro eram provenientes de máquinas de calcular antigas e tinham a inscrição: “10 x R$100 = R$1.000”. Para o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), ex-promotor de Justiça, a anotação é típica da contravenção.
Além disso, havia dois carimbos nas fitas com os dizeres “Caxias 118” e “Campo Grande 119”. As duas referências são de locais no Estado do Rio. Anteriormente, a PF chegou a acreditar que as inscrições faziam referência a agências bancárias, mas agora acredita que, na verdade, tratam-se de bancas do jogo do bicho.
Lorenz, um homem com aparência tranqüila e de poucas palavras, demonstrava estar eufórico ontem. Por várias vezes, repetiu que em toda investigação os policiais, além de fazerem um trabalho minucioso, têm de ter sorte. E, ao que parece, a sorte chegou.
— Toda investigação tem seu tempo, mas dependemos também de um pouco de sorte, de estar no local certo, na hora certa — disse o delegado.
Anteontem, Lorenz havia dito que acredita que até antes do dia 29, data do segundo turno das eleições, a PF conseguirá esclarecer o mistério da origem do dinheiro. Ontem, ele adiantou que espera algum resultado já nos próximos dias, embora tenha reafirmado que a Polícia Federal não convocará uma entrevista coletiva para anunciar o resultado.
O relatório das investigações será enviado ao Ministério Público Federal e à Justiça Federal.
— Todo o resultado das operações será trazido em forma de relatório para dentro do inquérito.
Suspeita também sobre o PT
Antes mesmo de aprofundar a investigação sobre a origem do R$1,7 milhão apreendido em São Paulo, a PF acreditava que, mesmo saído de fonte ilícita, o dinheiro era do PT. Entre documentos que a CPI dos Sanguessugas recebeu da Polícia Federal, há um relatório preliminar da investigação em que o delegado Diógenes Curado afirmava que, ao que tudo indicava, o dinheiro apreendido era o próprio partido. Na interpretação de um parlamentar, o delegado fez essa afirmação depois de constatar que todos os envolvidos eram petistas.
O Globo
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