Policiais federais estão convencidos de que ex-assessor de Mercadante levou a quantia para a dupla detida em SP

Fato de haver notas de alto e baixo valor além de dólares denota arrecadação em diversas fontes, segundo indícios, de praças distintas

A hipótese mais provável com a qual a PF trabalha sobre a origem do dinheiro para a compra do dossiê contra tucanos é que os recursos tenham vindo do caixa dois do PT, segundo a Folha apurou.

São muitos os elementos considerados pela PF nessa direção. O dinheiro apreendido com os emissários do PT Gedimar Passos e Valdebran Padilha, ao que tudo indica, tem origem irregular. Os recursos não foram computados na contabilidade do partido e há sinais de que o dinheiro não saiu diretamente do sistema bancário para as mãos da dupla, podendo ter passado, por exemplo, por bancas do jogo do bicho no Rio.

Há notas altas, pequenas e parcela em dólar, o que denota arrecadação em várias fontes. Segundo os indícios já levantados, o dinheiro (R$ 1,75 milhão) veio de praças distintas, entre as quais Rio, São Paulo e possivelmente Santa Catarina.

Sem contar que o caso ocorreu em meio à disputa eleitoral e que, das cinco pessoas diretamente envolvidas com o escândalo, quatro trabalhavam para a campanha do presidente Lula e um para a de Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo.

Dois integrantes da PF ligados às investigações confirmaram à reportagem que esse é o cenário que consideram ter mais chances de ser confirmado, ou seja, que o dinheiro saiu do caixa dois do partido.

A PF está convencida de que Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Mercadante, foi quem levou o dinheiro para Gedimar e Valdebran no hotel onde os dois foram detidos. Imagens do sistema interno de TV do hotel mostram Lacerda entrando no hotel com uma mesma mala depois carregada por Gedimar. Segundo Valdebran disse à polícia, era a mesma mala que Gedimar exibiu a ele repleta de dinheiro. Lacerda, no entanto, nega que tenha levado dinheiro ao hotel.

Exceto Lacerda, os demais envolvidos (Gedimar, Valdebran, Jorge Lorenzetti, Expedito Veloso e Oswaldo Bargas) admitiram ter tomado conhecimento de que Luiz Antonio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas e autor do dossiê, queria dinheiro pelo material.

No entanto, todos eles negaram à PF, nos depoimentos que prestaram, ter informações sobre a origem do dinheiro.

Laranja diz que só passou dados à casa de câmbioEm depoimento à PF, Viviane Gomes da Silva negou ter realizado uma operação de compra de um lote de US$ 44,3 mil, no dia 21 de agosto, no guichê da casa de câmbio Vicatur, em Nova Iguaçu (RJ).

Ouvida anteontem, ela disse aos policiais que só fornecera seus dados a representantes da Vicatur, procedimento que, segundo ela, também teria sido feito por outros familiares seus.

Os dólares retirados por Viviane fazem parte do conjunto de US$ 29 milhões entre os quais a PF quer rastrear os US$ 110 mil que seriam sido usados para a compra do dossiê.

A linha de investigação, a mais contundente surgida nos 41 dias que o inquérito sobre o dossiê completa hoje, fez a PF trabalhar com a possibilidade de liquidar a apuração do caso nos próximos dias, possivelmente ainda antes do segundo turno das eleições.

No mínimo, as descobertas revelariam crimes praticados por diretores e funcionários da Vicatur, provavelmente como parte de uma engrenagem para fazer circular ou esconder dinheiro de origem ilícita.

A operação atribuída a Viviane consta dos registros que a Vicatur informou ao Banco Central, obrigação que tem como autorizada a transacionar moeda estrangeira.

Com as informações de Viviane, uma típica laranja, usada para esconder os verdadeiros donos da operação financeira, a PF rastreou ao menos outros sete “Gomes” nas transações. Também teriam residência na Baixada Fluminense, na vizinhança da Vicatur.

Casa de câmbio do dossiê passa por apreensão da PFApontada como a casa de câmbio de onde teriam saído dólares do dossiê contra o PSDB, a Vicatur, em Nova Iguaçu (Baixada Fluminense) passou por operação de busca e apreensão da PF. Os donos da Vicatur, Fernando Manoel Ribas Soares e Sirley da Silva Chaves, e o pai e o irmão de Fernando, Jorge Ribas Soares e Jorge Ribas Soares Júnior, prestaram depoimento na sede da PF no Rio de Janeiro.

Seis agentes chegaram à Vicatur ficaram no local por 1h10 e levaram apenas uma caixa de papelão. Os policiais não responderam às perguntas da Folha. A Vicatur divulgou em nota que Ribas Soares e Sirley não respondem a inquérito ou processo criminal e que “as as operações cambiais são comunicadas ao Banco Central”. Entretanto o sócio majoritário Fernando Manoel Ribas Soares deve quase R$ 500 mil em valores de 1998 (cerca de R$ 900 mil, se corrigidos) ao governo federal, conforme o processo de execução fiscal da 8ª Vara Federal do Rio.

LEONARDO SOUZA e HUDSON CORREA

Folha de S. Paulo