O policial corrupto, infelizmente, é personagem surrado na crônica de costumes. Mas faz tempo que a questão deixou de ser folclórica – se é que já foi um dia – e ganhou dimensões assustadoras, de ameaça ao próprio estado de direito, com a infiltração da criminalidade nas instituições.

É com otimismo, portanto, que se acompanha a operação deflagrada pela Polícia Federal em duas vertentes: contra o chamado “Comando Azul”, a banda podre da Polícia Militar, e para desarticular o esquema de acobertamento de máfias de caça-níqueis, nascidas no jogo do bicho, detectado pela PF na Polícia Civil do estado, e também com a participação de PMs.

Nesta ação, é acusado de comandar a indústria de proteção das máfias o delegado Álvaro Lins, chefe da Polícia Civil nos governos Garotinho e Rosinha, e recém-eleito deputado estadual pelo PMDB. Alguns inspetores ligados a Lins, com sintomáticos sinais exteriores de riqueza, também estão arrolados no caso, bem como um comandante de Batalhão da PM, o 14º, Bangu, coronel Celso Lacerda Nogueira. Soldados do coronel também faziam parte do “Comando Azul,” especializado em extorquir dinheiro de traficantes e abastecê-los de armas desviadas dos arsenais da própria polícia.

A gravidade das acusações da PF justificou a maior operação de prisão de policiais já realizada em todos os 197 anos de história da PM fluminense. Até o final de semana, haviam sido apanhados 79 PMs. A operação junto à PM foi executada com o apoio da Corregedoria e do serviço reservado da corporação, numa cooperação direta entre o Executivo federal e o governo do estado, dificultada nos últimos anos por resistências político-eleitorais do Palácio Guanabara.

Por tudo que já foi dito e pelos contatos já mantidos por Sérgio Cabral, governador eleito, a expectativa é de que a partir de janeiro esse trabalho conjunto se aprofunde, inclusive com a anunciada participação das polícias dos vizinhos São Paulo, Minas e Espírito Santo. Como se sabe, não há outra forma de se combater uma criminalidade cada vez mais integrada além das fronteiras dos estados e do país a não ser também pela integração de todo o sistema nacional de segurança pública.

Novas operações serão necessárias. E não apenas no Rio. Embora aqui haja mesmo alvos prioritários a atacar com urgência.

EDITORIAL / O Globo