O SINPECPF voltou a bater no assédio moral sofrido pelos servidores administrativos da PF. Novamente o palco do debate foi a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, que promoveu ontem (6) audiência específica para tratar dos assédios na PF. Diante da gravidade dos argumentos expostos pelos representantes de classe do órgão, os parlamentares cogitam inclusive instalar Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar abusos de autoridade na instituição.
A audiência foi fruto de requerimento apresentado pela Frente Parlamentar em apoio à reestruturação da Polícia Federal, liderada pelo deputado Otoniel Lima (PRB/SP), que demonstrou preocupação com os alarmantes índices de suicídio enfrentados pela instituição. Os problemas de ordem psicossocial foram atestados por representantes da Fenapef e pelas pesquisadoras da Universidade de Brasília (UnB) Fernanda Torres e Ana Magnólia Mendes, que em 2012 coordenaram estudo para avaliar o clima institucional entre os policiais federais.
A presidente do SINPECPF, Leilane Ribeiro de Oliveira, deixou claro que o problema tem direta e estreita ligação com a falta de profissionais da área de saúde atuando na PF. “Em todo o Brasil, temos 13 psicólogos, 2 psiquiatras, 22 assistentes sociais e 6 enfermeiros. O número é insuficiente para prestar atendimento adequado aos mais de 13 mil servidores do órgão”, enfatizou.
Leilane também criticou as diretrizes de trabalho impostas pela administração do órgão aos profissionais de saúde, dizendo faltar autonomia para uma atuação mais adequada. “A administração instituiu um modelo no qual esses profissionais atuam basicamente na produção de atestados médicos, quando poderiam fazer muito mais”, apontou.
O tratamento discriminatório sofrido pela categoria administrativa também teve espaço no discurso da presidente. Ela avalia que o descontentamento generalizado dos servidores administrativos para com a instituição seria menor se houvesse mais respeito e reconhecimento por parte dos pares policiais. “Infelizmente, muitos de nós já tivemos de ouvir a terrível frase ‘Quem você pensa que é?’, disparada por um colega policial quando contestamos uma ordem ilegal”, revelou.
Como agravante do problema, Leilane denuncia que alguns policiais se fazem valer do porte de arma para intimidar o servidor administrativo. “Não é raro que nesses debates os colegas coloquem a arma deles sobre a mesa como forma de intimidação”.
Para a pesquisadora Fernanda Torres, os administrativos estão sendo prensados pela guerra de poder deflagrada pelas categorias policiais. Ela defende que o modelo estrutural da PF seja revisto e que os administrativos ganhem autonomia para coordenar as ações biopsicossociais. Na avaliação da pesquisadora, também constitui assédio o fato de que os profissionais com conhecimento técnico sobre o tema tenham de trabalhar de acordo com normas e políticas instituídas por quem é leigo no assunto. “O ideal seria que vocês próprios conduzissem essas ações”, pontuou.
Ao final do debate, o deputado Otoniel Lima afirmou que a Frente Parlamentar em apoio à reestruturação da Polícia Federal irá visitar unidades da PF onde o assédio moral é considerado crítico pelos representantes de classe. “Queremos visitar todo o país, mas avaliamos que as primeiras visitas devem acontecer em Foz do Iguaçu, Rondônia e Acre. Caso sejam confirmados os abusos, poderemos instituir uma CPI para investigar o problema”, garantiu.
ÚLTIMOS COMENTÁRIOS