Sub-relator da CPI diz que apurações indicam uso de dinheiro de campanha na tentativa petista de comprar papéis. Berzoini pode ser convocado
O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), sub-relator da CPI dos Sanguessugas, afirmou ontem que a Polícia Federal deverá apontar crime eleitoral no desfecho do inquérito que apura o escândalo do dossiê contra tucanos. De acordo com ele, os investigadores indicarão que o grupo petista envolvido na compra do material usou dinheiro de caixa 2 do PT. “A tendência é pelo crime eleitoral. Quem mais poderia dispor de todos esses recursos?”, declarou o parlamentar, após desembarcar em Brasília de viagem a Cuiabá, onde se reuniu com representantes da PF e da Justiça Federal.
Restaria ainda à PF, salientou Gabeira, avançar nas investigações para definir a qual campanha atribuir o referido caixa 2. Dos seis petistas envolvidos no episódio, três deles mantinham vínculos com o comitê do presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva — Jorge Lorenzetti, Expedito Veloso e Osvaldo Bargas. A polícia apontou também Hamilton Lacerda como suspeito. Lacerda trabalhava para o comitê do senador Aloizio Mercadante, candidato petista derrotado ao governo de São Paulo.
A tese de que o dinheiro para a compra das informações que pudessem comprometer integrantes do PSDB com a máfia dos sanguessugas saiu de caixa 2 ganhou força entre os policiais federais nos últimos 15 dias. Na semana passada, eles decidiram afunilar a apuração em torno dos tesoureiros de campanha de Lula e Mercadante, que serão convocados para prestar depoimento nos próximos dias. A legislação eleitoral torna o candidato responsável jurídico por eventual uso de caixa 2.
Depoimentos
Fernando Gabeira viajou a Cuiabá em companhia da deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Os dois foram buscar informações do inquérito da Polícia Federal, entre elas cópias dos depoimentos do ex-presidente do PT Ricardo Berzoini e do piloto Tito Lívio Ferreira Júnior, que seria o responsável por levar o dinheiro de São Paulo para Cuiabá. A CPI também pediu acesso aos relatórios da análise dos cruzamentos de dados a partir da quebra de sigilo telefônico dos envolvidos.
A polícia identificou que nos dias 12 e 13 de setembro — às vésperas da apreensão dos R$ 1,75 milhão — houve 16 telefonemas entre Berzoini e Osvaldo Bargas, que trabalhou como secretário-executivo do Ministério do Trabalho quando o presidente afastado do PT ocupava a pasta. Nesse período, Bargas estaria em Cuiabá para acompanhar entrevista de Darci e Luiz Antônio Vedoin à revista Istoé, durante a qual os donos da Planam envolveram tucanos com a máfia das ambulâncias. Fernando Gabeira disse ontem que defenderá a convocação de Berzoini pela CPI dos Sanguessugas.
PILOTO É SERVIDOR
O piloto Tito Lívio Ferreira da Silva Júnior, escalado para transportar de São Paulo para Cuiabá o dinheiro que seria destinado ao pagamento do dossiê contra tucanos, é funcionário do governo do Mato Grosso do Sul. A confirmação foi publicada ontem pelo Diário Oficial do Estado (DOE) em portaria, transferindo Silva Júnior, lotado na Agência Estadual de Empreendimentos (Agesul), para a Assembléia Legislativa, ganhando mais de R$ 4 mil por mês.
Marcelo Rocha
Correio Braziliense
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