Imagine que em um rompante ufanista o Governo Federal decida estatizar a seleção brasileira. Ora, os membros do escrete canarinho sempre foras vistos como verdadeiros embaixadores da cultura nacional. “Por que não oficializar a coisa toda e transformá-los em servidores públicos em tempo integral?” – pensam os governantes. Com isso, Neymar e cia. deixariam seus clubes e passariam a ter seu salários pagos com dinheiro público, arrecadado dos impostos pagos pela sociedade.
Acontece que o Governo Federal não é lá muito bom em planejamento estratégico… Enquanto os craques da seleção e o técnico Felipão recebem seus salários atrativos, os profissionais de apoio técnico amargam remunerações muito abaixo de suas capacitações. Massagistas, nutricionistas, médicos, preparadores físicos, fisioterapeutas, roupeiros, relações públicas, etc.: todos passam a se sentir desvalorizados e desmotivados. Muitos deixam a seleção em busca de empregos melhores.
O vácuo deixado por esses profissionais precisa ser preenchido! Neymar está sentindo fisgadas no joelho esquerdo e o Brasil tem um importante jogo no final de semana. Sem ter a quem recorrer, a seleção dispensa Fred dos treinamentos para que ele preste atendimento ao colega de ataque. Júlio César também não treina para atualizar o cardápio das refeições dos demais colegas. Davi Luis e Oscar vão cuidar dos uniformes e Felipão deixa o treino para cuidar do credenciamento da imprensa.
Chega a hora do jogo e o Brasil dá um vexame de dar dó. Júlio César, visivelmente sem ritmo de jogo, leva dois frangos. Davi Luis e Oscar não veem a cor da bola. Neymar sequer joga, pois o tratamento receitado por Fred não surte efeito. Fred deixa o jogo no segundo tempo porque o preparo físico não está apurado. O time como um todo joga mal, sem padrão tático. A justificativa de todos para o “chocolate” imposto pelo adversário – “Estávamos fazendo outras funções em vez de nos preocuparmos com as nossas”.
A história aqui relatada soa absurda para qualquer um. Mas é exatamente o que acontece na Polícia Federal. Lá, os servidores administrativos – médicos, psicólogos, técnicos em telecomunicações, engenheiros, contadores, e tantos outros profissionais que prestam apoio à atividade policial – não são corretamente valorizados e deixam a instituição para trabalhar em outros locais. Como a PF não funciona sem essas atividades, o órgão desloca policiais altamente treinados e melhor remunerados para esses postos, mesmo que eles não saibam executar o serviço para o qual foram designados.
Com isso, a sociedade não apenas perde um policial na linha de frente do combate a crime, como paga mais caro pelo serviço administrativo da PF, que acaba sendo menos eficiente do que seria caso fosse executado por um servidor capacitado para as funções.
Se quisermos que a segurança pública de nosso país melhore, temos que mudar este quadro. É como diz a letra daquele funk: “cada um no seu quadrado” – policiais fazendo atividade policial, administrativos fazendo atividade administrativa. Somente colocando as engrenagens corretas em cada local é que a máquina da polícia funcionará adequadamente.
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