Presidentes do PSDB, PFL e PPS acusam Thomaz Bastos de proteger Lula e afirmam que Blairo Maggi foi comprado pelo presidente

A tentativa atrapalhada de petistas de comprar um dossiê transformou-se em um presente para os adversários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi um dos motivos que levou a eleição presidencial a ser decidida em segundo turno. O tema continua a ser fonte dos ataques incessantes da oposição contra Lula e principal trunfo na tentativa de obter benefícios políticos. Os presidentes do PSDB, Tasso Jereissati, do PFL, Jorge Bornhausen, e do PPS, Roberto Freire, vão procurar hoje os presidentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello, com pedido para que investiguem a suposta tentativa do governo de acobertar a participação do ex-assessor da Presidência Freud Godoy no escândalo do dossiê.

As reuniões são uma tentativa explícita de desacreditar a investigação da Polícia Federal (PF). Depois de se encontrarem ontem, os oposicionistas decidiram disparar a artilharia contra a PF. Os adversários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusam o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de utilizar a polícia para inocentar Godoy e afastar o caso da órbita do presidente da República. Os três presidentes de partidos de oposição pretendem, hoje, falar “no olho” do diretor da PF, Paulo Lacerda. “Nós três vamos dizer claramente ao superintendente da PF que não vamos admitir que a PF seja destruída e transformada em polícia política do governo Lula como está sendo”, atacou Tasso. “Vamos reagir com todas as armas para que a PF não siga este caminho absolutamente fascista que está seguindo hoje.”

Reportagem da revista Veja desta semana diz que Freud Godoy encontrou-se com ex-policial federal Gedimar Passos, na carceragem da PF em São Paulo, antes de o ex-policial recuar da acusação e retirar o nome de Freud dos envolvidos no caso do dossiê. O ex-segurança do presidente Lula foi apontado inicialmente por Gedimar como um dos participantes da tentativa frustrada de comprar por R$ 1,7 milhão denúncias contra o governador eleito de São Paulo, José Serra, e o presidenciável tucano Geraldo Alckmin.

Além de registrar o protesto, a oposição quer fazer uma investigação paralela à da PF. Como já existe no TSE um pedido de apuração do caso, os advogados da coligação PSDB-PFL vão pedir ao tribunal que convoque os delegados e carcereiros, que teriam facilitado o suposto encontro entre Freud e Gedimar, e o ministro da Justiça, que, segundo a revista, teria instruído os acusados. “Vamos ao TSE para que sejam convocadas todas as pessoas envolvidas na tentativa de encobrimento e abafa no caso Freud”, avisou Tasso. Para ele, se ficar comprovada a participação de Thomaz Bastos no episódio, o Ministério Público deve denunciá-lo. “Se ficar claro e comprovado que existe crime de responsabilidade pelo ministro da Justiça, o Ministério Público tem de investigar também.”

Megamensalão

A oposição está decidida a desferir um bombardeio jurídico contra o presidente. Lula também será alvo hoje de outra ação jurídica da oposição. Desta vez por ter obtido a adesão do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS). Os oposicionistas acusam o presidente de ter “comprado” o apoio do governador. Maggi declarou apoio em Lula, contrariando a posição do partido, ao mesmo tempo em que anunciou que o governo liberaria R$ 3 bilhões para renegociar dívida de grandes agricultores. “É uma operação de compra e venda inadmissível em processo eleitoral. É um grande mensalão com um megamensaleiro”, atacou o presidente do PPS, Roberto Freire. Ele diz esperar apenas a carta com o pedido de desfiliação de Maggi do partido.

A representação acusará Lula de abuso de poder econômico e administrativo. “É um crime confesso e explícito já que o governador Blairo declarou apoio em função das vantagens pecuniárias e administrativas”, argumentou Tasso.

Reunidos no gabinete de Tasso no Senado no final da tarde, os presidentes dos partidos de oposição já responderam às críticas do PT, feitas antes mesmo de anunciada a decisão dos adversários. No meio da tarde, os petistas já classificavam de “factóide” a reunião dos oposicionistas e uma tentativa de desestabilizar as instituições. “A montanha de dinheiro que eles não queriam que fotografassem não era factóide”, rebateu Tasso. A divulgação da foto com o dinheiro apreendido pela PF é vista como um dos fatores que levou a eleição a ser decidida no segundo turno, e tem sido repetida insistentemente no programa de TV de Alckmin. Roberto Freire também comparou o suposto uso da PF no caso com a quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa, que fez denúncias contra o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. “Fomos nós que queríamos desmoralizar a Caixa Econômica Federal?”, questionou.

AÇÃO

“Vamos reagir com todas as armas para que a PF não siga este caminho absolutamente fascista que está seguindo hoje”

TASSO JEREISSATI,

presidente nacional do PSDB

“É um crime confesso e explícito, já que o governador Blairo declarou apoio em função das vantagens pecuniárias e administrativas”

TASSO JEREISSATI,

sobre a adesão de Blairo Maggi à candidatura de Lula

“É uma operação de compra e venda inadmissível em processo eleitoral.

É um grande mensalão com um megamensaleiro”

Roberto Freire, presidente nacional do PPS, sobre o acordo entre Lula e Maggi 

Helayne Boaventura

Correio Braziliense