A beleza da comunicação é que ela permite infinitas possibilidades de dar um mesmo recado. Discursos entram para história não apenas pela mensagem transmitida, mas também pela precisa escolha de palavras. O mesmo vale para as ofensas: uma expressão errada, no lugar errado, pode colocar tudo a perder e ter um efeito devastador. A categoria administrativa sabe bem disso.
Mesmo dispondo de infinitos recursos e palavras, a Direção-Geral da Polícia Federal parece obstinada em diminuir os servidores administrativos a cada comunicado divulgado pela Divisão de Comunicação Social. O último deles data de hoje mesmo (29). Nele, a Direção-Geral revela que, de acordo com o Ministério da Justiça, o projeto que trata do reajuste salarial das categorias policiais será encaminhado hoje ao Congresso Nacional. Até aí, nada demais. O problema está no arremate do texto:
“Dessa forma, a Direção-Geral reitera sua disposição em garantir a recomposição dos salários de todos os policias federais, valorizando aqueles que são a essência da Polícia Federal.”
A leitura óbvia que se faz de tal trecho é que a categoria administrativa não é essencial para a Polícia Federal. Inclusive explica a “disposição” da Direção-Geral em conquistar um reajuste salarial diferenciado para os policiais, empenho este que nem passou perto das negociações travadas pelo SINPECPF.
Sr. Diretor-Geral, não é a primeira vez que dissemos isso, mas é válido repetir sempre: a Polícia Federal não funciona sem o servidor administrativo. Caso todos nós nos levantemos ao mesmo tempo de nossas cadeiras e deixemos nossos postos, o caos estará instalado sobre o órgão. Não haverá comunicação nas operações, alimentação de sistemas, administração de recursos, serviço de imigração, controle de produtos químicos, apenas para ficar em alguns exemplos.
Sabemos que o policial é a razão de ser da Polícia Federal. Mas por que dar a entender que o administrativo não é essencial? Que jamais haverá empenho por parte da Direção-Geral para que também nossa categoria seja valorizada salarialmente? De todos os problemas enfrentados por nossa categoria, essa “miopia” — que culmina na cultura discriminatória que enfrentamos — talvez seja o pior deles. Justamente um mal cuja solução compete ao próprio órgão.
Não se trata apenas de querer ter o ego massageado, mas sim de mudar a cultura institucional. Hoje, foi uma mensagem. Amanhã poderá ser um projeto de lei com benefícios (outro bônus diferenciado???) para a instituição. Basta. Está na hora da Direção-Geral também falar para e pelos administrativos. E não apenas em comunicados, como também nas reuniões com o alto escalão do governo. Se o diretor-geral deseja se redimir de mais um “ato-falho”, que o faça com ações, pois elas valem mais do que palavras, inclusive as mal escolhidas.
Estamos há décadas esperando esse tratamento condizente! Dessa publicação já se passaram quase 5 anos, e o tratamento condizente veio com o corte dos adicionais de insalubridade e periculosidade, acompanhado do corte do auxílio transporte. Estamos realmente sentindo o “tratamento condizente” na pele e no bolso! O porquê esse órgão não nos enxota de vez está na lei de criação do cargo! Porém, irão nos humilhar, perseguir e cercear de quaisquer benefício para o cargo, exercendo pressão suficiente para esvaziá-lo por aposentadorias ou por abandono dos servidores para outros cargos que possuam carreira.
Para o órgão, não temos valor algum, e além de descartáveis, somos um incômodo! Não houve e nunca haverá espaço aos “ocupantes do PEC” no órgão. Lamentavelmente estamos a “deriva”! O “barco” PEC foi alçado ao mar com um rombo no casco, sem salva vidas! Não há o que fazermos!