Presidente começa hoje a conversar com aliados para montar a equipe, que não será definida antes do carnaval
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai abrir a temporada de negociações: a partir de hoje à noite, ele iniciará reservadamente as conversas com os partidos aliados – a começar pelo PMDB -, na tentativa de montar o ministério do segundo mandato. Lula quer tratar logo de “passar mercúrio” nas feridas abertas na base governista depois que o petista Arlindo Chinaglia (SP) foi eleito presidente da Câmara. Na manhã de ontem, ele novamente pediu ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que permaneça na equipe mais alguns dias, porque pretende fazer as mudanças de uma única vez.
Em conversas com dirigentes do PT, Lula já disse que a reforma ministerial não sairá antes do carnaval. “Eu entreguei para Deus”, afirmou um ministro ao Estado, em tom bem humorado. Para a vaga de Thomaz Bastos, o mais cotado ainda é Tarso Genro, das Relações Institucionais. Embora ele enfrente resistências no PT da ala ligada ao ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, a escolha é da cota pessoal do presidente e não entrará no balcão das negociações políticas. Na outra ponta, os desafetos de Tarso juram que o ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence pode ser a opção.
A comissão política do PT reúne-se hoje para tentar fechar a lista de pedidos a ser apresentada ao Palácio do Planalto e acalmar a luta interna entre as correntes que disputam os cargos entre si. Na prática, o PT deseja manter os 15 ministérios que controla, de um total de 34. Detalhe: a facção “Movimento PT”, de Chinaglia, avalia que está mal representada no governo.
Lula passará hoje o dia entre o Rio e São Paulo, mas à noite pretende encontrar-se com o presidente reeleito do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um de seus interlocutores para assuntos de composição da equipe e fraturas na base.
O PMDB recuou e agora não deseja mais a “verticalização” dos ministérios, modelo que no jargão político de Brasília é chamado de “porteira fechada”. Por essa prática, o partido que controla determinada pasta fica responsável pelas indicações de todos os cargos subordinados àquela área.
A idéia foi proposta pelo próprio governo, no “pacote” da coalizão, mas os peemedebistas perceberam que o feitiço pode se virar contra o feiticeiro. Motivo: no latifúndio ministerial, desejam morder pedaços de várias feudos, sob a alegação de que a sigla tem “capilaridade” nacional.
Depois da eleição de Chinaglia para a Câmara, os partidos começaram a apresentar a fatura do apoio aos petistas. Somente no PMDB – que já comanda três ministérios (Saúde, Comunicações e Minas e Energia) – existem atualmente dez pretendentes para Transportes, pasta dirigida pelo PR.
“Isso é ridículo!”, esbravejou o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), nome sempre lembrado nessa lista. “Temos de deixar o presidente à vontade.” Na queda-de-braço, o PR sustenta que o ex-ministro e hoje senador Alfredo Nascimento (AM) voltará a ocupar a pasta. O PT faz de tudo para manter suas cadeiras e o PP de Paulo Maluf, no comando de Cidades, demonstra que não admitirá encolher na reforma.
“A eleição na Câmara mostrou a nossa força”, comentou o líder do PP, deputado Mário Negromonte (BA), que conversará com Lula nos próximos dias. “Não é uma regra de três, mas as negociações devem ocorrer sempre de acordo com o tamanho das bancadas e tenho certeza de que o presidente assim o fará.”
O Estado de São Paulo – Vera Rosa, BRASÍLIA
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