Polícia suspeita que vingança tenha motivado assassinatos de Jocélia Costa e de sua filha de 5 anos anteontem à noite
Integrante do movimento afirma que coordenadora havia sofrido ameaças por telefone; suspeito tinha sido expulso de acampamento
A líder do MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra) Jocélia Oliveira Costa, 31, foi assassinada anteontem à noite num acampamento na rodovia BR-369, em Cascavel (PR). Sua filha, de cinco anos, também foi morta -com um tiro na nuca. Outro integrante do MLST foi ferido na perna.
A polícia diz que o principal suspeito é um sem-terra que Jocélia expulsou do acampamento -que reúne 230 famílias. Segundo testemunhas, a chacina ocorreu às 21h30 de anteontem, quando dois homens numa motocicleta chegaram atirando ao seu barraco. Jocélia levou um tiro nas costas. Segundo o delegado Amadeu de Araújo, a filha de Jocélia, Emanuelly, “deve ter reconhecido os agressores e foi assassinada”: “É uma cena típica de queima de arquivo”.
O sem-terra Ezequias Faleiros, 32, que estava próximo ao barraco de Jocélia, levou um tiro na perna. Principal testemunha do crime, Araújo disse que um dos suspeitos foi expulso há um mês do acampamento. Outra liderança do MLST local, Maria Ferreira, disse que Jocélia foi ameaçada em 19 de maio: “Ligaram para seu celular e avisaram que ela ia ver o que ia acontecer em nosso acampamento. No dia 2 deste mês, um outro líder sofreu atentado. Essas ameaças são de pessoas de fora do acampamento”.
O delegado Araújo disse que a polícia não foi avisada da ameaça a Jocélia e do atentado contra outra liderança do movimento. Na tarde de ontem, ele pediu à Justiça de Cascavel a decretação da prisão preventiva de dois suspeitos.
O MLST, que ficou conhecido nacionalmente depois de organizar a invasão e depredação da Câmara dos Deputados no último dia 6, é um movimento recente no Paraná. Segundo Celso Lacerda, superintendente regional do Incra, o movimento não tem assentamentos no Estado. O grupo atua nos municípios de Lindoeste e Cascavel, com dois acampamentos.
Maus-tratos A Secretaria Especial dos Direitos Humanos pedirá ao Ministério Público e à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal que apure as acusações feitas pelo MLST, de que integrantes do movimento foram vítimas de maus-tratos.
Mais de 500 militantes do movimento foram mantidos presos entre os dias 6 e 9 deste mês devido à invasão à Câmara. Depois de libertados, eles distribuíram uma nota em que relataram casos de maus-tratos. Tanto a Polícia Militar quanto a Polícia Legislativa negaram as acusações.
No documento protocolado na quinta-feira passada na Secretaria dos Direitos Humanos, o MLST dá as iniciais de dez adolescentes que teriam sido vítimas de agressões. Amarildo Baesso, assessor da Secretaria de Direitos Humanos, disse que nenhum dos adolescentes com quem conversou fez menção a agressões: “Eles estavam bem, disseram que estavam se alimentando bem. Até onde eu acompanhei, eles não fizeram denúncia de maus-tratos”.
JOSÉ MASCHIO da Folha de S. Paulo
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