Informações bancárias de Freud Godoy serão investigadas. PT pede que o processo sobre o dossiê não corra em segredo

A Justiça Federal no Mato Grosso determinou ontem a quebra do sigilo bancário de Freud Godoy, ex-assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O pedido partiu da Procuradoria da República no estado, que propôs também o acesso a informações financeiras da mulher dele, Simone Messeguer, e das empresas Caso Sistemas de Segurança e Caso Comércio e Serviço, que estão em nome dela, mas o Judiciário negou. Foi autorizada ainda a devassa nas contas de Hamilton Lacerda, ex-assessor do senador Aloizio Mercadante (PT-SP).

Em relação a Freud, a Procuradoria da República quer analisar, além de sua movimentação financeira, as operações tributáveis declaradas por ele ao fisco no último ano. Duas informações embasaram o pedido à Justiça: em 24 de março deste ano, o ex-funcionário do Palácio do Planalto depositou, segundo informação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), R$ 150 mil, em dinheiro, na conta da empresa Caso. Em setembro passado, também por meio da Caso, o investidor Naji Nahas teria feito um crédito em favor de Freud no valor de R$ 396 mil. Ele nega.

Freud é um dos petistas suspeitos de envolvimento na negociação do dossiê contra os tucanos, escândalo que essa semana completou um mês. Quem fez a referência a Freud foi Gedimar Passos, preso juntamente com o petista Valdebran Padilha em um hotel de São Paulo com os R$ 1,7 milhão que seriam usados na transação. Em depoimento à PF, Gedimar chegou a dizer que o ex-assessor da Presidência participou da entrega do dinheiro, mas depois recuou e o inocentou.

Marqueteiro

Mesmo sem a comprovação efetiva de sua participação no caso, Freud freqüentou o noticiário nos últimos dias por causa de movimentações financeiras atípicas atribuídas a ele e a empresa Caso. Duas delas chamaram a atenção dos procuradores de República, que decidiram pedir a quebra de seu sigilo bancário. Agora, surgem informações sobre os depósitos que empresas do publicitário Duda Mendonça, o marqueteiro de Lula em 2002, fez na conta da Caso.

No caso de Hamilton Lacerda, a PF o aponta como o “homem da mala” no escândalo do dossiê. Ele foi flagrado pelo circuito interno do hotel em que estavam Gedimar e Valdebran, chegando com uma mala preta, que os investigadores suspeitam ter sido usada para levar os R$ 1,7 milhão. Hamilton disse que carregava na mala boletos de arrecadação da campanha presidencial, além de roupas. Essa informação, entretanto, foi classificada de “estranha” pelo ex-coordenador da campanha de Lula Ricardo Berzoini, em depoimento à polícia na última terça-feira, o que complicou a situação dele no inquérito.

O presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, anunciou que colocou à disposição das autoridades a quebra de sigilo bancário do Diretório Nacional do PT e da campanha de Lula. Garcia, que também é o coordenador da campanha, informou ainda que pediu à Justiça Federal de Cuiabá a suspensão do segredo de Justiça no inquérito que apura a compra de dossiê contra tucanos e tenta esclarecer a origem do dinheiro que seria utilizado. Garcia afirmou ainda ter tomada essa decisão para “evitar vazamentos, informações daqui e dali e para que haja absoluta transparência”.

Marcelo Rocha

Correio Braziliense