Expressão artística herdada da colonização portuguesa, a literatura de cordel segue viva e forte, tendo ganhado sensível impulso com a ajuda da Internet. Verdadeira prova da afirmação é o colega Josivaldo Alves de Melo, agente administrativo lotado na Superintendência de Alagoas, que, nas horas vagas, exercita seu lado poeta por meio de seu site “Cordel sem métrica”.
Para quem não conhece, o cordel (ou folheto) é um gênero literário popular cujos pés estão fincados na poesia. Frequentemente rimado, geralmente se origina de relatos orais, sendo posteriormente impresso em formato de folheto para ser exposto em bancas especializadas, muitas vezes com a ajuda de barbantes, dos quais deriva o nome “cordel”.
De custo baixo, geralmente estes livretos são impressos com xilografia e vendidos pelos próprios autores, que comumente declamam seus versos, muitas vezes de forma musicada. Fazem grande sucesso na região Nordeste, em parte pelo preço baixo, pelo tom humorístico de muitos deles e também por retratarem fatos da vida cotidiana da cidade ou da região.
O primeiro contato do colega Josivaldo com o formato ocorreu ainda na infância, nos anos 60, durante visitas a feiras do interior de Alagoas. Ele conta que a paixão foi imediata: “O cordel encantava a todos da maneira como era lido por seus próprios autores, incentivando pessoas pouco alfabetizadas a gostar da leitura, tendo em vista que naquela época existiam poucos meios de comunicação e difusão cultural”, recorda.
De lá para cá, o amor só fez crescer. O poeta, cantor e improvisador Antônio Gonçalves da Silva (Patativa do Assaré) se tornou um de seus grandes heróis, disputando espaço com o poeta e arquiteto Jessier Quirino, por quem Josivaldo confessa profunda admiração. “O trabalho de Quirino representa muito bem o espírito do povo nordestino”, reflete o colega.
Em seu site, Josivaldo revela buscar inspiração para as histórias que escreve tanto na ficção quanto na realidade, muitas vezes em amigos e conhecidos. “Criar histórias, vem muito das observações do cotidiano”, dá a receita. “Um bom observador, encontra o caminho para uma boa história, principalmente quando essa pessoa viveu em fazendas e em pequenas cidades no interior do país e na capital trabalhou como taxista, ouvindo e contando casos”, completa. Para o autor, boas histórias têm elementos dos costumes, do regionalismo, apresentando ainda traços sociológicos e antropológicos de um povo ou região.
Apesar da paixão pelo cordel, Josivaldo seguiu durante anos sem publicar no formato tradicional, exercendo sua criatividade artística em roteiros de “casamento matuto” para a quadrilha junina Amanhecer no Sertão, na época em que o filho Jeyson dançava na mesma. “Descobri na época, o prazer de escrever”, conta.
Partiu também de Jeyson a fagulha que deu origem ao site “Cordel sem métrica”. “Foi meu filho quem criou de fato o site, tanto o design quanto a apresentação. Eu entrei após ser desafiado por ele a usar o espaço para divulgar o cordel de uma maneira diferente, contando histórias sem preocupação com a métrica”, explica.
Questionado se o trabalho na Polícia Federal já inspirou algum trabalho, Josivaldo responde afirmativamente, revelando que o órgão é celeiro de bons poetas. “O brasileiro, principalmente o nordestino, já nasce cordelista e a Polícia Federal, em todos os cargos, tem bons cordelistas”, avalia entusiasmado. “Várias de minhas obras foram inspiradas pelo dia a dia no órgão. ‘Das Postagens Populares’, ‘A Despedida’ e ‘Mestre Geraldo’, foram homenagens a pessoas que dedicaram suas vidas à instituição”, conta.
Nosso colega artista aproveita a deixa para enaltecer o empenho do SINPECPF na realização do último concurso para a categoria e na nomeação dos aprovados. “Fomos agraciados com a chegada dos novos companheiros, a maioria com nível superior, pós-graduados, mestres e até doutores, pessoas com condições e conhecimento para desenvolver estratégias que provem a nossa importância para a instituição”.
Para conferir o belíssimo trabalho do colega Josivaldo, basta acessar o site “Cordel sem métrica”, clicando aqui. Abaixo, reproduzimos o cordel “A despedida”, escrito em homenagem à aposentadoria da colega Marluce Costa de Moraes.
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