Sem região, participação feminina entre os deputados cairia em relação a 2002
Mesmo sendo a única região do país em que o eleitorado feminino é minoria, o Norte contribui com quase 30% das 46 deputadas eleitas
Elas são da única região do país em que o eleitorado feminino não é maioria. Mas, se não fossem elas, a representação das mulheres na Câmara dos Deputados, já bastante pobre, sofreria um recuo e não bateria seu recorde histórico.
Enquanto as colegas do resto do país viram suas participações recuarem, diminuírem ou apresentarem crescimento pífio, as nortistas estouraram nas urnas. Em 2002, oito delas foram eleitas. Agora, foram 13.
O crescimento de 62,5% ganha ares de estratosférico quando comparado com o resto do país. Sem o Norte, a bancada feminina ficaria menor -as outras quatro regiões elegeram 33 deputadas, uma a menos do que há quatro anos.
Com o estouro nortista, 46 mulheres foram eleitas (isso sem contar os recursos no TSE, que podem alterar alguns resultados), recorde histórico -o anterior era de 2002 (42).
Numa região em que a renda e as oportunidades profissionais para as mulheres não se comparam às do Sul e do Sudeste, a bancada feminina no Norte tem um tamanho mais próximo da Europa do que no resto do Brasil. A participação feminina na bancada da região será de 20%, contra 7% das outras partes da nação.
Todos os Estados nortistas ficam acima da média do país. No Amapá, elas empataram com os homens -são quatro vagas para cada gênero, sendo que as quatro maiores votações foram de mulheres.
“Não se pode dispensar o avanço das questões femininas na Amazônia. As mulheres precisam de politicas públicas particulares, que, muitas vezes, não partem do Executivo, em geral ocupado por homens”, teoriza Janete Capiberibe (PSB), a mais votada no Amapá.
No Acre e em Rondônia, o recorde de votação para a Câmara também foi feminino.
Mas tanto no Norte como nas outras regiões a votação não segue o tamanho da cota imposta aos partidos. Eles devem reservar 30% das suas legendas para as mulheres, marca difícil de ser obtida, tanto que algumas siglas diminuíram o número de candidatos homens.
Para brilharem nas urnas, as deputadas nortistas ainda precisam enfrentar um eleitorado com perfil inédito entre as cinco regiões do país.
No Norte, 49,75% do eleitorado é feminino. No Sul, onde apenas quatro mulheres conseguiram um lugar na Câmara, o eleitorado feminino responde por 51,22% dos votos. São Paulo foi outra unidade da federação em que as mulheres fizeram feio. Foram apenas três eleitas, ou só 4,3% da bancada.
A participação feminina variou muito também entre os partidos. Entre as agremiações que elegeram pelo menos dez deputados, o PC do B foi o que mais teve as mulheres prestigiadas -foram cinco eleitas, ou 42% da bancada comunista.
Entre os quatro maiores partidos, o PSDB foi o de pior desempenho nesse ponto. Os tucanos só emplacaram três deputadas, ou meros 4,5% da bancada tucana que tomará posse no início de 2007.
O PT foi um pouco melhor, mas despencou em relação ao que aconteceu na eleição passada. Em 2002, foram 12 deputadas petistas, contra 7 agora.
LUÍS FERRARI e PAULO COBOS
Folha de S. Paulo
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