Peça, considerada fundamental para esclarecer as causas do acidente, estava enterrada a 20 centímetros do solo

As equipes de busca da Aeronáutica encontraram ontem o gravador de voz do Boeing 737-800 da Gol, que caiu há 26 dias matando 154 passageiros. Com o impacto da queda após a colisão com o jato Legacy, o equipamento – a caixa-preta que ainda não havia sido encontrada – ficou enterrado a 20 centímetros da superfície, mas aparentemente não foi danificado. A outra caixa-preta, com dados do vôo, já foi encontrada. A comissão que investiga o acidente entre as duas aeronaves acredita que as gravações poderão reconstituir os momentos que antecederam a colisão do Boeing com o jato Legacy e ajudar a obter as respostas que ainda faltam para esclarecer as causas do acidente.

Detectores de metal ajudaram na localização

O cilindro de voz será levado no próximo sábado por três coronéis da Aeronáutica para a Organização Internacional de Aviação Civil, com sede no Canadá, no mesmo procedimento adotado com as caixas-pretas do Boeing e do Legacy. O equipamento deverá ser aberto na próxima segunda-feira, e a transcrição das conversas pode levar menos de uma semana. O equipamento foi encontrado na área onde estão os destroços do avião com o auxílio de detectores de metal.

O ministro da Defesa, Waldir Pires, informou ontem que, apesar da descoberta do equipamento, as equipes de busca continuarão na mata à procura de restos mortais do bancário Marcelo Paixão, de 28 anos, única vítima ainda não identificada. Os militares também procuram partes do avião que possam auxiliar nas investigações.

Ontem, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidente Aeronáuticos (Cenipa), órgão ligado ao Comando da Aeronáutica, avisou oficialmente à Polícia Federal que não repassará as informações já extraídas das caixas-pretas e das perícias feitas em equipamentos dos dois aviões, como o transponder e o TCAS (sistema anti-colisão), que poderiam ter evitado a colisão. A decisão criou um mal-estar entre as instituições.

Delegado quer ter acesso aos documentos

Em ofício enviado ao delegado federal Renato Sayão pela assessoria jurídica do Comando da Aeronáutica, a corporação recorreu a duas normas internas de segurança para justificar a decisão. Segundo o documento, a legislação militar impede que informações de investigações internas sejam usadas em processos que podem levar à punição de envolvidos em acidentes.

Por considerar as informações imprescindíveis para a investigação, o delegado encaminhou à Justiça Federal de Sinop (MT) – município mais próximo do local do acidente – uma representação para tentar obter acesso aos documentos. A caixa-preta dos aviões registra o contato entre os pilotos e dados sobre as alterações de altitudes das aeronaves e funcionamento dos equipamentos de segurança.

Sayão espera ouvir ainda esta semana o depoimento dos controladores de vôo de plantão no dia do acidente em Brasília, Manaus e São José dos Campos. Ele recebeu transcrições das conversas entre aviões e torres de controle registradas no dia.

Alan Gripp / O Globo