Coringa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Tarso Genro ocupou três ministérios no primeiro mandato, além da presidência do PT. Assume hoje a pasta da Justiça, depois de ter passado pela articulação política do governo. Lá, juntou conquistas importantes como a montagem da coalizão que apóia o governo Lula no Congresso com uma extensa linha de adversários políticos, adquiridos ao longo dessas negociações. A oposição viu em sua nomeação uma tentativa de colocar a Polícia Federal sob ordens do PT.
A sua indicação para o Ministério da Justiça, foi muito criticada pela oposição, que aponta o risco de partidarização da Polícia Federal sob ordens de um ministro petista.
Nunca houve um ministro da Justiça que não fosse político. Alguns eram políticos e não eram sequer advogados. Alguns podem não ter pertencido a partido, mas isso não significa que não fossem políticos. A Justiça é um ministério político. Recebo as manifestações da oposição, aquelas que são sérias, como uma preocupação natural sobre a forma como o ministro da Justiça deve se portar. Podem ficar tranqüilos. Terei um comportamento republicano, como sempre tive.
Ao falar em manifestações sérias, o senhor inclui as críticas do prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL)?
Não. O que o prefeito colocou deixa mal a ele na opinião pública e não a mim.
Durante o primeiro mandato a PF foi uma personagem importante. Tanto pela descoberta de escândalos na administração pública e no PT, quanto pelo discurso do presidente, que sempre apontou as investigações da polícia como um sinal de que o governo combatia a corrupção. A PF vai mudar sob suas ordens?
Não. Vai continuar e aprofundar todas as investigações independente de partido. A PF não deve apoiar nem atacar o governo e sim cumprir suas funções legais. Sob a direção do delegado Paulo Lacerda ela fez isso. E continuará a fazer, seja quem for o diretor. Se depender de mim, Lacerda permanece, mas ele já avisou que pretende ficar só três meses para a transição. Ele demonstrou ser um bom quadro de Estado e um delegado competente. Tanto que políticos de vários partidos foram investigados, inclusive do partido do presidente.
Sem ele, não há risco de partidarização da polícia?
Ao contrário, queremos despartidarizar cada vez mais a Polícia Federal. Algumas pessoas se reportam à PF como se despartidarizá-la fosse colocá-la contra o partido do governo. Não é isso. Ela deve e pode investigar pessoas com e sem partido e de qualquer partido.
A reforma política será um projeto do Ministério da Justiça?
Vou contribuir com a reforma política, estabelecendo relações com a OAB, com os partidos políticos e o Congresso para ampliar a discussão da reforma. Mas o governo não remeterá um projeto ao Congresso. Não queremos que seja uma disputa entre oposição e governo.
Muitos temem que a reforma política sirva de canal para mudar as leis e permitir a permanência do presidente Lula no poder além do segundo mandato.
O presidente não pensa em reeleição e não deixa que ninguém próximo dele pense nisso. A discussão de propostas como plebiscito e referendo (sobre o tema) tem de ser discutidas pela sociedade. Mas não se pode substituir a representatividade política pela democracia direta.
No primeiro governo Lula, a coordenação política era concentrada nas mãos de petistas históricos, como José Dirceu, Luiz Gushiken e Antonio Palocci. No segundo mandato, será dividida com políticos do PMDB, PTB e outros partidos da base aliada. O que essa mudança significa?
Maturidade política e coalizão. O atual governo está sendo formado em negociação com os partidos em cima de um projeto político. O próprio PT reconhece a necessidade de basear o governo em alianças políticas sólidas e não em pessoas. É uma transição difícil e causa muitas incompreensões. O PT hoje está representado de uma maneira mais ampla no governo, no que se refere a suas correntes internas. Há uma cara no governo. A antiga maioria do partido permanece representada, com ministros como Luiz Dulci, Paulo Bernardo, Guido Mantega e Patrus Ananias. Mas essa maioria hoje divide espaço com outras correntes internas do partido.
Essa coalizão pode ter um candidato a presidente da República em 2010 de for a do PT?
Essa é uma questão dos partidos e não do governo, mas numa coalizão nenhum partido pode ter mais direito que os outros de apresentar candidato.
O senhor foi apontado como articulador da intervenção do governo a favor da reeleição de Michel Temer à presidência do PMDB. O governo abandonou a candidatura de Nelson Jobim quando ficou claro que Temer venceria?
Como coordenador político, tive dezenas de conversas com o PMDB, mas não interferi no processo. Conversei com Jobim na terça-feira e analisamos tudo o que aconteceu. Não há nenhum problema. Sei que o presidente do Senado, Renan Calheiros (que apoiava Jobim), ficou pessoalmente agastado. É natural, mas somos pessoas maduras e saberemos superar essa situação.
Por que o senhor aparece no meio de todas as confusões políticas do governo?
Não sei se é sorte ou azar, mas essa situação me persegue. Minha atuação se baseia em conceitos políticos e os conceitos amarram relações sólidas e desavenças sólidas.
Gustavo Krieger – Correio Braziliense
Foto: Iano Andrade / CB
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