Investigação sobre origem do dinheiro deverá centrar em dirigentes do PT envolvidos na compra do documento
Nos próximos dias a Polícia Federal vai centrar em dirigentes do PT paulista as investigações sobre a origem do dinheiro utilizado na compra de um dossiê contra tucanos. No relatório parcial que entregou ontem à Justiça, o delegado Diógenes Curado Filho pede mais 30 dias de prazo para concluir o inquérito e anuncia novas diligências. Os últimos 30 dias das investigações resultaram em 1.190 páginas e 19 apensos de inquérito.
O delegado pretende ouvir Paulo Frateschi e Antônio dos Santos, respectivamente presidente e tesoureiro do PT de São Paulo, além de José Giácomo Baccarin, coordenador financeiro da campanha do senador Aloizio Mercadante ao governo do estado. A quebra de sigilo telefônico dos envolvidos no caso revelou contatos entre os três e os outros petistas já citados.
O relatório tem só quatro páginas e detalha os passos dados pelas investigações nos últimos trinta dias. A principal constatação é a certeza de que os dólares apreendidos no hotel em São Paulo com dois petistas saíram mesmo da casa de câmbio Vicatur, em Nova Iguaçu (RJ). Os sócios da empresa, Sirlei da Silva Chaves e Fernando Manuel Ribas, já foram indiciados.
– Em relação aos dólares, a identificação é mais fácil. É possível rastrear sua passagem pelo mercado financeiro. Com os reais, até pela existência de muitas notas de baixo valor, a identificação fica mais complicada – disse o superintendente da Polícia Federal, Daniel Lorenz.
O relatório parcial não faz menção à participação do presidente afastado do PT Ricardo Berzoini no episódio. O mesmo ocorre com o deputado federal Carlos Abicalil (PT-MT), que teria conversado ao menos 30 vezes com os petistas Valdebran Padilha e Expedito Veloso entre agosto e setembro, época em que o dossiê era negociado. Padilha foi preso junto com o advogado Gedimar Passos com R$1,7 milhão em dinheiro. Veloso trabalhou na campanha pela reeleição do presidente Lula. Gedimar também já foi indiciado.
Sobre Berzoini, o superintendente da PF reafirmou que não é possível, até agora, formar juízo sobre a participação ou não dele na negociação do dossiê.
Bastos nega atraso na conclusão de inquérito da PF
Além dos três petistas de São Paulo, o delegado apontou no relatório a necessidade de se ouvir novamente Osvaldo Bargas e funcionários da empresa Transbank, que, segundo a PF, teria transportado parte do dinheiro apreendido com Valdebran e Gedimar. O texto afirma ainda que não há mais dúvidas da participação de Hamilton Lacerda na negociação do dossiê, já que está claro que foi ele quem entregou o dinheiro a Gedimar no hotel em São Paulo.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, negou ontem que a Polícia Federal esteja atrasando a conclusão do inquérito que investiga a origem do dinheiro que seria usado para pagar o dossiê contra políticos tucanos. Segundo ele, o inquérito segue uma tramitação normal e a PF não pode fazer milagre. Para o ministro, trata-se de um caso complexo que não pode ser solucionado a toque de caixa.
– A cadeia causal foi encontrada rapidamente, até pela confissão dos acusados, mas a origem do dinheiro exige um intenso cruzamento de informações, de ligações telefônicas, com a presença de pessoas. Isso demora mesmo. Não é possível fazer milagre – disse Bastos, depois de participar da abertura do 1º Seminário Luso-Brasileiro sobre Tráfico de Pessoas e Imigração Irregular, na sede da Procuradoria Geral da República.
O inquérito da PF sobre o dossiê foi aberto em setembro, depois da prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha com R$1,7 milhão, que seria usado para comprar documentos contra políticos tucanos.
– Para uma investigação séria é preciso tempo, e é esse tempo que o delegado está pedindo, mais 30 dias – disse Bastos.
O Globo
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