Pesquisa aponta o Distrito Federal em quarto lugar entre as unidades da federação com maior número de homicídios na faixa etária dos 15 aos 24 anos. Nos últimos 10 anos, os assassinatos cresceram 34%
A capital federal está entre as cidades mais perigosas para os jovens. O Distrito Federal ocupa o quarto lugar no ranking dos estados com maior taxa de homicídio entre a população de 15 a 24 anos, na frente de regiões consideradas violentas, como São Paulo. De 1994 a 2004, 3.536 jovens foram assassinados em Brasília. Os dados fazem parte da pesquisa Mapa da Violência 2006, realizada pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI).
O levantamento inédito, divulgado ontem, mostrou que o número de homicídios de jovens na cidade cresceu 34% durante a última década. Em todo o Brasil, esse aumento foi ainda mais expressivo: os assassinatos nessa faixa etária aumentaram 64,2% de 1994 até 2004. As causas externas — homicídios, acidentes de trânsito ou suicídios — são responsáveis pela morte de mais de 60% dos jovens brasileiros.
A violência contra os jovens no Brasil só perde para a Colômbia e a Venezuela. As mortes por homicídio, no entanto, nem sempre lideraram as estatísticas no país. Há cerca de meio século, as epidemias e as doenças infecciosas eram as principais causas da morte da população de 15 a 24 anos. Por falta de trabalho ou de educação, os jovens estão nas ruas, mais expostos à criminalidade. Em Brasília, sete em cada 10 mortos por homicídio são jovens. E os negros são as principais vítimas. Dos 374 assassinatos registrados na faixa etária de 15 a 24 anos em 2004, 318 mortos eram negros. Apenas 53 eram brancos.
Na comparação entre os sexos, os números são ainda mais impressionantes: 92% das vítimas de homicídio são do sexo masculino. A sociologia do crime diz que a violência é um fenômeno predominantemente masculino e que os jovens, por sua natureza turbulenta, são mais propensos à delinqüência. A afirmação é do coordenador para assuntos de segurança pública do Centro de Ensino Unificado do Distrito Federal (UDF) e doutor em educação, George Felipe Dantas.
Ele associa o elevado número de jovens do sexo masculino envolvidos em crimes à falta de amparo do Estado, à ruptura da estrutura familiar e à cultura da supremacia pela força física. “A violência prevalece nas áreas mais pobres, onde a falta de estrutura social faz com que o jovem busque meios alternativos para se incluir na sociedade. Valores culturais que exaltam a posição do macho, a energia juvenil e a proximidade com a miséria provocam essa epidemia de homicídios entre jovens”, explica.
O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz , autor da pesquisa Mapa da Violência 2006, lembra que as armas de fogo são as principais causas da morte dos jovens brasileiros. “A mortalidade por arma de fogo continua extremamente alta. Uma média de 102 pessoas morrem todos os dias no país, vítimas de disparos”, explica o pesquisador.
Mas ele destaca que a campanha do desarmamento teve efeitos positivos para a redução de mortes. A tendência histórica de crescimento dos assassinatos parou em 2004, quando o número de homicídios caiu 5,3% com relação ao ano anterior. No Distrito Federal, essa tendência se confirmou. O número de assassinatos caiu de 407 para 374 no mesmo período. “A campanha de desarmamento e o recolhimento de armas tiveram reflexos imediatos na redução dos índices”, explica Julio Jacobo.
Perda
Sete anos não foram suficientes para fazer o publicitário Francisco Régis Lopes, 42 anos, superar a morte do irmão. Em 10 de fevereiro de 1999, o estudante Maurício Dartagnan Ferreira Lopes, 17, foi assassinado. O jovem conversava com amigos na 315 Sul quando Jorge da Silva Júnior, 19, anunciou o assalto. Maurício não teve tempo de descer da bicicleta — levou dois tiros no peito e morreu no local. “Costumamos pensar que esse tipo de situação nunca vai acontecer na nossa própria família. Mas o fato é que a violência está cada dia maior e atinge jovens de todas as cidades do DF”, diz Francisco.
Um ano antes de o irmão ser assassinado, o publicitário sofreu com a morte do pai. Pensava conhecer bem a dor de perder um ente querido. “Mas quando o Maurício morreu, vi que não tinha aprendido nada. Eu o vi nascer, ele ainda aproveitava a juventude quando foi assassinado. Isso é inaceitável”, desabafa. “Às vezes, penso que os jovens são as grandes vítimas da violência porque eles se expõem mais. Têm sede de viver, estão sempre nas ruas”, explica Francisco.
O diretor da OEI no Brasil, Daniel González, diz que o estudo sobre a violência entre os jovens é importante para o governo traçar diretrizes para resolver o problema. “O levantamento é essencial para ajudar o governo a definir as políticas públicas”, explica González. O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, lembra que a violência, além de levar a vida dos jovens, tem custo altíssimo para os cofres públicos. “O sistema de saúde fica sobrecarregado”, explica. Segundo ele, os dados da OEI serão úteis para melhorias no sistema de saúde e nas políticas do governo. “O estudo vai ajudar que as políticas públicas sejam mais embasadas e, portanto, mais efetivas.”
Helena Mader e Carolina Caraballo
Correio Braziliense
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