A demora de pelo menos dois meses na nomeação da nova equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou duas classes de ministérios na Esplanada: os que estão trabalhando normalmente, comandados por ministros considerados certos no segundo mandato, e aqueles em ritmo lento diante da indefinição sobre o futuro do titular, o que já provoca problemas administrativos.
O atraso já tem implicações concretas na Justiça, na Polícia Federal, no Desenvolvimento Agrário, no Incra, na Defesa e no Desenvolvimento.
Num dos casos mais claros, a indefinição prolongada alimentou uma disputa entre delegados da PF para nomear o novo diretor-geral da entidade, o que já prejudica o andamento de algumas operações, segundo integrantes da pasta.
Lula já foi informado do caso, de acordo com assessores. A provável saída do atual diretor-geral, Paulo Lacerda, foi acertada em dezembro com a de seu superior, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
Situação similar ocorre na área militar. O atraso na troca dos comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica tem prejudicado outras nomeações nas Forças Armadas. Além disso, a previsão de troca no Ministério da Defesa fez com que a discussão da desmilitarização do controle de tráfego aéreo se arrastasse por mais dois meses.
No Desenvolvimento Agrário, segundo a Folha apurou, pouca coisa acontece até a “virada do ano político”. Um exemplo é a divulgação detalhada do balanço da reforma agrária. Como a exposição dos dados tende a desgastar a atual administração da pasta, a ordem é segurar o balanço até a reforma ministerial. Até lá, Guilherme Cassel trabalha para se confirmar no cargo.
O problema também se estende ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), onde a demora tem atrasado a conclusão da chamada “programação operacional” da autarquia, que aponta as diretrizes de investimentos para diferentes ações.
De saída
A agenda de alguns ministros também reflete a indefinição do novo ministério. Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, está em férias pela segunda vez neste ano.
Ele já chegou a informar o presidente que deixaria o governo, mas sua situação é considerada incerta. Isso fez seu ministério reduzir o ritmo, já que muitos assessores ainda não sabem se ficam.
De saída do governo, Thomaz Bastos ficou anteontem numa “agenda interna”, em São Paulo, e só voltou à noite a Brasília. Ontem, mais agenda interna.
A letargia, no entanto, não contaminou pastas como Casa Civil, Fazenda e Planejamento, responsáveis pela condução do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Também trabalham normalmente ministérios como o de Minas e Energia, que deve continuar com Silas Rondeau, e Educação, em que o ministro Fernando Haddad, mesmo sem estar totalmente garantido, finaliza medidas encomendadas por Lula.
O começo do ano é naturalmente lento em várias áreas do governo, portanto é normal que muitos programas ainda estejam sendo finalizados e as prioridades das pastas, traçadas por seus titulares.
Mas, em alguns ministérios, existe um ingrediente adicional, provocado pela indefinição sobre a permanência do ministro. É o caso da Saúde, onde há um clima de “apreensão” entre os funcionários, muitos terceirizados. São técnicos, consultores e assessores que esperam a escolha do novo ministro para saber se os contratos de suas empresas serão mantidos. A pasta está sob o comando de José Agenor, que assumiu a vaga deixada no ano passado pelo peemedebista Saraiva Felipe.
PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
da Folha de S.Paulo, em Brasília
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