Polícia Federal desbaratou na noite de terça-feira uma quadrilha especializada em fabricar, armazenar, comercializar e distribuir armas de fogo. Três homens foram presos em flagrante. A fábrica clandestina funcionava numa serralheria, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, e abastecia o tráfico nas comunidades de Antares, Grota, Complexo da Maré e Cidade de Deus, todas controladas pela facção carioca Comando Vermelho (CV). Segundo a PF, foram entregues nesta semana dois fuzis no Morro da Providência.
A investigação para chegar até a fábrica começou em janeiro, quando a Operação Suporte da PF levou os agentes a apreenderem na Via Dutra duas submetralhadoras vindas de Ribeirão Preto, a 310km de São Paulo, para abastecer favelas do Rio. Para o delegado federal José Mariano Beltrano, do Setor de Inteligência da PF, a apreensão aumentou a suspeita de ligação do Primeiro Comando da Capital (PCC) com o CV, que compraria armas da facção paulista. “Há dez anos, o PCC começou a fabricar armas em Ribeirão Preto e essa prática veio depois para o Rio”, disse.
Os agentes encontraram na fábrica clandestina cinco submetralhadoras, um fuzil, dezenas de peças e moldes para fabricação de armas, além de dinheiro — R$ 2.800 —, três latas de tintas, munição e um caderno com anotação de contabilidade. O proprietário da serralheria é o torneiro mecânico Beroaldo Pádua de Araújo, 57 anos, que teria confessado que trabalhava por encomenda e no varejo. “Ele tinha um estoque com todas as peças de armas”, disse o delegado.
Outro detido é Luís Eduardo da Silva, apresentado como o responsável pela comercialização das armas nas favelas. O taxista Paulo Jorge Vieira dos Santos, 51 anos, fazia o transporte do armamento em um fundo falso no banco traseiro do veículo. A PF está investigando a atuação de outros armeiros no interior de São Paulo e no Mato Grosso do Sul.
Os agentes federais vão trocar informações com a Polícia Civil para saber se a arma usada para matar o desembargador José Maria de Mello Porto, do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Rio de Janeiro, foi fabricada pela quadrilha detida. Mello Porto foi morto a tiros na Avenida Brasil, em 3 de agosto, em uma suposta tentativa de assalto.
São Paulo
A PF também prendeu ontem, em São Paulo e Guarulhos, seis pessoas que podem ter ligações com o PCC. Elas são acusadas de tráfico internacional de armas, formação de quadrilha, posse ilegal de armas e munição e tráfico de drogas. Os supostos criminosos estavam em suas casas quando foram cumpridos os mandados de prisão temporária. Os agentes federais apreenderam também, na capital e em Guarulhos, 13 armas, granadas, munições, 16 bananas de gel explosivo, mil comprimidos de ecstasy e 2kg entre cocaína e crack. Existe a suposição de as armas serem provenientes do Paraguai, pois estavam embrulhadas em jornais daquele país.
Batizada de Operação Gládio, em referência a uma espécie de espada pequena usada por gladiadores, a ação da PF buscou desarticular a quadrilha. Cerca de 30 policiais participaram da operação. Os mandados expedidos pela Justiça previam prisão temporária — com prazo de até cinco dias —, mas depois de os policiais encontrarem as armas e as drogas, foi feito boletim de flagrante, o que permitiu que fosse efetuada a prisão preventiva dos seis.
Para a polícia, as armas e munições estariam sendo locadas para integrantes do PCC. Como o armamento é considerado pesado, poderia ser usado em assaltos a banco, carro-forte e inclusive no resgate de presos. As investigações policiais continuam para que se descubra qual o elo existente entre os presos e a facção criminosa. Por enquanto, os criminosos ficaram sob custódia da Superintendência da PF em São Paulo.
Da Redação do Correio Braziliense
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