Lista divulgada por CPI que investiga fraude na Saúde mostra ainda que 63% dos envolvidos são de partidos do mensalão

Comissão divulga 57 nomes de acusados de fazer parte de esquema de propina, apesar de sigilo de apuração decretado pelo Supremo

Dois meses após a deflagração da Operação Sanguessuga pela Polícia Federal, a CPI criada no Congresso para apurar o escândalo divulgou ontem os nomes de 56 deputados e de um senador que já estão sendo investigados pela Procuradoria Geral da República.

As legendas que tiveram mais envolvimento no esquema do mensalão dominam a lista dos citados. PTB, PP e PL abrigam 63% dos parlamentares investigados até agora.

A lista mostra ainda que 82% dos nomes pertencem a seis siglas que integram a base aliada do governo ou que detêm cargos no primeiro escalão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. São 13 parlamentares do PTB, 13 do PP, dez do PL, cinco do PMDB, quatro do PSB e dois do PRB. A exceção é o PT.

A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) foi citada no depoimento do empresário Darci Vedoin, dono da Planam, empresa que encabeçava a fraude, mas seu nome não consta dos investigados pela Procuradoria. Na oposição, o PFL tem quatro filiados envolvidos; o PSDB tem três.

Ontem, o ministro Gilmar Mendes, que comanda as investigações no STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou a abertura de inquérito contra 42 parlamentares, o que, somados aos 15 já investigados, resulta na lista de 57 divulgada pela CPI. Mendes deu o aval para a comissão divulgar os nomes, apesar de manter o sigilo sobre as provas colhidas na apuração.

Outro dado da lista mostra que a bancada do Rio de Janeiro é a campeã em número de parlamentares investigados, 13, o que representa quase 30% da bancada do Estado. “Precisamos começar a discutir a representatividade do Rio de Janeiro no Congresso”, disse o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), integrante da CPI.

Em segundo lugar, aparece a bancada de São Paulo, com dez parlamentares envolvidos. Em seguida, com cinco, vem o Mato Grosso, Estado onde o esquema teria se originado.

Entre os 57, há vários integrantes da bancada evangélica.

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), divulgou nota em que pede a expulsão dos três deputados do partidos que aparecem na lista: Paulo Feijó (RJ), Eduardo Gomes (TO) e Itamar Serpa (RJ). O PPS estuda fazer o mesmo com Fernando Estima (SP).

Do total investigado, até agora só há um senador. Trata-se do líder do PMDB, Ney Suassuna (PB). Porém, de acordo com os depoimentos dos dirigentes da Planam, outros dois senadores teriam sido beneficiados pelo esquema: a petista Slhessarenko e Magno Malta (PL-ES). Eles negam.

A divulgação dos parlamentares envolvidos foi feita pelo presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ). Ele ressaltou que o relatório preliminar -previsto para ser entregue em no máximo 30 dias- pode resultar numa lista menor ou maior que o número de 57 parlamentares investigados pela Procuradoria. “Poderão ser 57, menos de 57 ou mais de 57. Temos de ter cautela em relação a isso.”

Integrante da CPI, a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) defendeu a divulgação de mais nomes. Os dirigentes da Planam apontaram envolvimento de cerca de cem congressistas. A CPI já abriu “pastas eletrônicas” para 99. “Faltam mais 40 que precisam ter seus nomes divulgados”, disse Heloísa.

Biscaia adiantou que, por ora, a CPI não irá investigar o envolvimento de integrantes do Executivo. “Isso ficará para uma segunda fase. Existem dois ex-ministros que são candidatos a governador em Pernambuco [Humberto Costa, do PT] e em São Paulo [José Serra, do PSDB]. Não queremos partidarizar a CPI.”

CPI diz que há provas contra parlamentares O empresário Luiz Antonio Trevisan Vedoin, apontado pela Polícia Federal como líder da quadrilha dos sanguessugas, teria apresentado à Justiça provas documentais de pagamento de propina a cerca de 70 congressistas supostamente envolvidos com o esquema de venda de veículos superfaturados a prefeituras.

Entre as provas, foram apresentados extratos bancários e cópias de cheques. As informações são do vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), que teve acesso às 151 páginas do depoimento do empresário.

Segundo Jungmann, foram relatados detalhes como pagamentos feitos “em mãos” a congressistas, muitas vezes na Câmara. O deputado disse ainda que seriam 102 deputados e três senadores os mencionados como beneficiários finais do esquema.

Deputados se dizem “surpresos” com inclusão na lista Os parlamentares acusados de envolvimento na máfia dos sanguessugas afirmaram não saber por que tiveram os nomes incluídos na lista divulgada pela CPI e se disseram “surpresos”. A maioria, no entanto, não respondeu à Folha. Alguns atribuem a ligação com o escândalo a supostos mal-entendidos ou ao envolvimento de assessores. Leia abaixo o que dizem cada um dos acusados:

 

Ney Suassuna (PB) – a assessoria do líder do PMDB no Senado diz que ele interpelou judicialmente as pessoas que citaram seu nome nas investigações sobre o esquema e que seu nome foi envolvido no escândalo devido à prisão de seu ex-assessor Marcelo Carvalho.

Mário Negromonte (BA) – o líder do PP na Câmara se disse “surpreso” e “estarrecido” com sua inclusão, já que a Corregedoria da Câmara teria arquivado o processo contra ele por suposta falta de provas.

Amauri Gasques (PL-SP) -a assessoria do deputado afirmou que se surpreendeu com seu nome incluído nas investigações, e acredita que isso ocorreu porque Maria da Penha -suposto braço da quadrilha no Executivo- trabalhou em seu gabinete antes de ir para o Ministério da Saúde.

Coriolano Sales (PFL-BA) -diz que destina emendas ao Orçamento à Saúde desde 1995 e não tem relação com as licitações disputadas pela Planam.

Jefferson Campos (PTB-SP)- por meio da assessoria, informou não saber o motivo da inclusão de seu nome na lista.

João Mendes de Jesus (PSB-RJ) – segundo a assessoria, o deputado não foi notificado e não se pronunciaria.

Dr. Heleno (PSC-RJ) – informou não saber por que seu nome foi incluído na lista da CPI.

Nélio Dias (PP-RN) – disse que direcionou mais de R$ 30 milhões em emendas à compra de ambulâncias e que uma delas foi adquirida por uma prefeitura com a Planam, sem sua participação na negociação.

Fernando Estima (PPS-SP) -afirmou não entender por que seu nome foi incluído na lista da CPI, já que não teria apresentado emendas em 2005.

Teté Bezerra (PMDB-MT) -afirmou que o fato de seu nome constar na lista não é prova de envolvimento em ato ilícito. Ela disse que nunca apresentou emenda ao Orçamento que tivesse por finalidade a aquisição de ambulância. Também afirmou que não manteve contato com a Planam.

José Militão (PTB-MG) – o deputado disse ter ficado “surpreso” com a inclusão de seu nome. Afirmou que há um ônibus de serviço médico-odontológico comprado para Itutinga (MG), a partir de uma emenda sua. “Mas a licitação foi feita pelo prefeito, como em qualquer procedimento normal”.

Laura Carneiro (PFL-RJ) -em nota, a deputada afirmou que, assim que tiver conhecimento de todo o inquérito, irá se pronunciar. “Mas reitero que não recebi qualquer quantia proveniente de emenda que eu tenha, porventura, apresentado ao Orçamento”.

Paulo Baltazar (PSB-RJ) – o deputado afirmou, por meio de nota, que nunca negociou emendas com empresas.

João Caldas (PL-AL) – negou as acusações. “O problema é que a mentira repetida várias vezes vira verdade”.

Pedro Henry (PP-MT) – a assessoria do deputado informou que ele só se manifestará depois de ser chamado pela comissão.

Lino Rossi (PP-MT) – o deputado afirmou que não tem conhecimento completo das denúncias contra ele.

Wanderval Santos (PL-SP) – seu advogado, Marcelo Bessa, afirmou que não se manifestará sobre o caso porque o inquérito corre sob segredo de Justiça. Os demais não foram localizados ou não responderam.

ADRIANO CEOLIN e LEONARDO SOUZA

Folha de S. Paulo