As últimas três operações da Polícia Federal em repressão aos crimes ambientais revelaram uma das mais trágicas e destrutivas facetas da crise moral e da onda de corrupção que atingem a sociedade brasileira.

Quando agentes públicos mercadejam criminosamente com empresários que fraudam licitações ou os sistemas financeiro e previdenciário, há um grande prejuízo para os cofres públicos, mas que na maioria das vezes pode ser superado com a posterior adoção de medidas administrativas saneadoras, a própria atividade arrecadadora e o crescimento da economia que, em tese, reporá paulatinamente os recursos desviados.

Mas quando a corrupção envolve a administração ambiental, como descortinou a Operação Euterpe da Polícia Federal do Rio de Janeiro, a reparação dos danos é praticamente impossível.

A Amazônia, a Mata Atlântica, os recursos pesqueiros e a biodiversidade, bens maiores da nação brasileira, uma vez perdidos ou esquartejados, estarão irremediavelmente comprometidos. A corrupção ambiental alveja o que o Brasil tem de mais precioso.

Para piorar as coisas, a corrupção ambiental afugenta o empreendedorismo e assim estanca as possibilidades de desenvolvimento, mormente no caso do combalido Estado do Rio, onde os fiscais ambientais, quando não encontravam irregularidades nos empreendimentos imobiliários, inventavam problemas para vender a liberação das obras. É aí que entra o desastroso “custo corrupção”, que gera desânimo e descrédito, e sangra e desestimula os investimentos.

Vale lembrar o efeito didático obtido com a Operação Euterpe, que prendeu os corruptos e os seus respectivos corruptores. Aos empresários fica a lição de que pagar propinas para aprovar obras e projetos pode não ser o caminho mais curto para o lucro fácil. Além de terem sido presos junto com os servidores públicos que corromperam, deverão ter seus projetos revistos, e provavelmente demolidos. Definitivamente não terá valido a pena.

Fica a sugestão: não paguem propinas, não se deixem achacar e denunciem qualquer tentativa de extorsão. E por fim, alinhem seus empreendimentos aos ditames e interesses ambientais previstos na lei. Pois, ao que parece, meio ambiente é algo que todos gostam de proteger até que se torna empecilho para algum projeto lucrativo, construção de um deque ou uma simples piscina. Aí é um “probleminha ambiental” a ser driblado a qualquer custo. Para que a coisa não piore para todos, basta que cada um faça a sua parte.

Artigo – JORGE BARBOSA PONTES*

O Globo

*JORGE BARBOSA PONTES é chefe da Divisão de Repressão aos Crimes Contra o Meio Ambiente da Polícia Federal.