Janene é beneficiado pela falta de quórum; Conselho de Ética arquiva processo contra deputada sanguessuga
Depois de um ano e 50 dias de manobras, recursos e adiamentos, o deputado José Janene (PP-PR), acusado de ser um dos artífices do esquema do mensalão, acabou saindo ileso do processo de cassação. Ele foi beneficiado pelo apagão aéreo, que dificultou a chegada de deputados a Brasília. Com o baixo quórum, a Câmara absolveu o mensaleiro porque apenas 210 deputados votaram pela cassação, quando eram necessários no mínimo 257 votos. Houve 128 votos contra a cassação, 23 abstenções e cinco em branco.
Como líder do PP, à época do mensalão Janene foi acusado de receber R$ 4,1 milhões das empresas de Marcos Valério, através de seu assessor João Carlos Genu, para comprar votos de parlamentares. O relatório do deputado Jairo Carneiro (PFL-BA) a favor da cassação tinha sido aprovado há cinco meses no Conselho de Ética. Inocentado, Janene, que não concorreu à reeleição, poderá voltar à Câmara daqui a quatro anos.
Perto de 21h, o placar do plenário registrava a presença de 414 deputados, mas o presidente em exercício Inocêncio de Oliveira (PL-PE) apelava insistentemente para que os parlamentares fossem ao plenário. Teve de encerrar a votação às 22h com apenas 366 votantes. Com a exigência de pelo menos 257 votos sim ao parecer de Jairo Carneiro, era previsível o resultado.
– Cumpri meu papel. Quem fica com a imagem muito arranhada é a instituição. Desse jeito vai parecer que a Câmara cometeu uma enorme injustiça ao cassar o pobre do Pedro Corrêa, que perdeu o mandato por um fato exatamente igual – lamentou o relator.
O advogado Marcelo Leal recorreu aos problemas graves de saúde de Janene para tentar sensibilizar o plenário. A defesa repetiu a versão de que parte do dinheiro recebido foi usada para pagar o advogado Paulo Goyaz, que defendeu o ex-deputado cassado Ronivon Santiago, réu em 36 processos na época.
Janene ficou em casa, alegando falta de ar
Segundo amigos, Janene acompanhou a votação de casa, em Curitiba, deprimido e com crises de falta de ar. Ele passou por dois transplantes de células-tronco, na tentativa de curar uma cardiopatia grave.
O Conselho de Ética da Câmara livrou ontem da cassação a primeira deputada dos 67 acusados pela CPI dos Sanguessugas, Celcita Pinheiro (PFL-MT). O parecer da relatora Ann Pontes (PMDB-PA), pelo arquivamento, recebeu oito votos a favor e apenas um contra. Por causa das denúncias, Celcita não conseguiu se reeleger. O deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), presidente da CPI, foi o único integrante do conselho contrário à absolvição.
Celcita foi acusada pela CPI de ter recebido dois cheques de R$25 mil do empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam. Ele disse à Justiça Federal, e confirmou em depoimento ao conselho, que repassou o dinheiro à parlamentar em 2002. Segundo Vedoin, os cheques teriam sido emitidos pela empresa Santa Maria, que pertence à família Vedoin. Ele contou ainda que o dinheiro foi pago com antecedência a Celcita, que depois reembolsaria a Planam, destinando emendas para compra de ambulâncias. O processo ainda será votado em plenário.
O Globo
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