Pesquisa da ONG Transparência Internacional revela que o país perdeu pontos no índice que mede a percepção de escândalos políticos. Denúncias recentes são apontadas como motivo para a queda
Os escândalos do mensalão, do valerioduto, da máfia das ambulâncias, das malas de dinheiro para pagamento de propina, entre muitos outros, custaram caro à imagem do Brasil no exterior. Pesquisa divulgada ontem pela ONG Transparência Internacional mostra que o país teve uma “piora significativa” no nível de corrupção. Na pesquisa passada, o Brasil ficou em 62º lugar em uma lista de 159 países. Agora, caiu para 70º, em 163 nações pesquisadas. A ONG Transparência Brasil avaliou os resultados de 154 países que aparecem nas duas pesquisas e constatou que o Brasil caiu cinco posições em relação ao ranking do ano passado.
Em 2005, o Brasil teve “nota” 3,7 no Índice de Percepção da Corrupção, medido a partir de pesquisas feitas com pessoas que têm ligação direta ou indireta com negócios internacionais. Em 2006, com a maior repercussão das denúncias envolvendo integrantes do governo, parlamentares e partidos políticos, o país caiu para 3,3 na avaliação geral. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou ontem não acreditar que houve crescimento da corrupção, mas do seu combate e de sua publicidade. “Ela está sendo tirada de debaixo do tapete”, afirmou ontem à noite o ministro, logo depois de participar da abertura da III Conferência Internacional de Perícias em Crimes Cibernéticos, em Brasília.
Para fazer o ranking mundial, a Transparência Internacional usa como base de dados várias pesquisas feitas em diferentes países por instituições como o Banco Mundial, o Fórum Econômico Mundial e agências de avaliação de risco. A pontuação vai de zero (pior situação) a 10 (situação ideal). “No caso do Brasil, é difícil não atribuir em boa medida a deterioração no índice à repercussão internacional dos escândalos que afetaram o governo no período recente”, diz a análise feita pela Transparência Brasil. “Não se sabe como a opinião das pessoas é formada. O Brasil se destacou mais pelos escândalos do que pelas melhorias, que aconteceram, mas não refletiram na percepção das pessoas”, resume o diretor-executivo da ONG brasileira, Claudio Weber Abramo.
O Brasil divide o 70º lugar com outros oito países: China, Egito, Gana, Índia, México, Peru, Arábia Saudita e Senegal. “Conforme a Transparência Internacional, o movimento do Brasil no índice deste ano correspondeu a uma real deterioração da imagem do país e não a um efeito numérico”, ressalta a análise da Transparência Brasil. O pior desempenho na lista dos países mais corruptos é do Haiti (“nota” 1,8) , que, apesar da força de paz da ONU instalada no país desde 2004, sofre com ações constantes de grupos armados de várias tendências. Logo em seguida, vem o Iraque (1,9) — dominado pela violência desde a ocupação pelos Estados Unidos, há três anos —, que divide o 160º lugar com Myanmar e Guiné.
Estão entre as nações menos corruptas, empatadas, a Finlândia, a Islândia e a Nova Zelândia, com 9,6 pontos. Entre os países que ficaram mais corruptos no último ano estão, além do Brasil, Cuba, Estados Unidos e Israel. No portal da Transparência Internacional, uma fotografia feita no Brasil ilustra o relatório dos corruptos: uma pichação que ironiza o mensalão e a prisão de um assessor do PT, Adalberto Vieira da Silva, flagrado com US$ 100 mil e R$ 200 mil, em dinheiro vivo, escondidos na cueca e em uma bolsa de viagem.
O controlador-geral da União, Jorge Hage, disse não ter se surpreendido com o aumento na percepção de corrupção, “após um ano de campanha eleitoral em que o governo foi acusado diuturnamente pelos opositores nas tribunas do Congresso, na mídia toda e nos programas eleitorais”. Em um comentário por escrito, o ministro insistiu na tese de que “a própria divulgação das providências investigativas da corrupção já fazem ampliar a percepção do fenômeno”.
Pobreza
A pesquisa mostra uma associação direta entre pobreza e corrupção: têm pontuação abaixo de 5 quase todos os países da África e de outras nações com alta proporção de pobres. “A corrupção aprisiona milhões de pessoas na pobreza”, disse ontem a presidenta da Transparência Internacional, Huguette Labelle, durante a divulgação do ranking de 2006, em Berlim. “Apesar da década de avanços na definição de leis e normas anticorrupção, os resultados indicam que ainda há muito por fazer antes que possamos registrar uma melhora significativa nas vidas dos cidadãos mais pobres do mundo”, completou.
Integrante da CPI dos Sanguessugas, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) diz que “o Brasil já tem condição de apresentar um projeto nacional contra a corrupção”. Ele lembra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois de reeleito, falou na necessidade de uma reação à corrupção. “Dificilmente o governo sozinho levaria adiante este projeto de ação. O governo tem razão ao dizer que não inventou a corrupção. Mas, se de um lado houve mais ação, também houve mais escândalos que não necessariamente apareceram porque a Polícia Federal atuou mais. Foi o caso do mensalão”, afirmou.
Correio Braziliense
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