O narcotraficante Fernandinho Beira-Mar inaugurou ontem o novo presídio federal de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná. Ele foi transferido na noite de terça-feira da superintendência da Polícia Federal em Brasília — onde estava desde 23 de março — para o novo presídio, que foi inaugurado pelo governo no mês passado. O Ministério da Justiça espera que ainda este mês outros presos sejam transferidos para lá, pondo fim à estada solitária de Beira-Mar no prédio. Não está descartada a ida de chefes da facção criminosa que fez atentados em São Paulo.
— Fizemos reuniões com autoridades de São Paulo, que estão negociando a transferência de 44 a 48 presos para o presídio federal. O governo do estado está mapeando seus 144 presídios para ver quem deveria ser levado para o presídio federal. Não sabemos se entre esses presos estarão os chefes da facção criminosa. Isso depende do governo local e da decisão da Justiça — disse Maurício Kuehne, diretor do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça.
Beira-Mar não sabia para onde estava sendo levado
O traficante saiu de Brasília por volta das 21h30m de terça-feira e chegou ao presídio às 3h de ontem. Ele foi do Distrito Federal a Cascavel (PR) num avião da Polícia Federal e de lá seguiu num comboio de quatro carros da polícia descaracterizados até o presídio. Beira-Mar foi escoltado por agentes da superintendência da PF do Distrito Federal.
Diferentemente do que ocorreu em outras transferências, desta vez Beira-Mar não tentou conversar com os policiais. Ele saiu de Brasília sem saber para onde estava sendo levado. Ao chegar no novo prédio, reconheceu o presídio de Catanduvas e exclamou, com claro descontentamento:
— Ah, eu estou aqui?
Agentes envolvidos na operação afirmaram que o traficante demonstrou apreensão durante a viagem. O sigilo em relação à transferência surpreendeu inclusive a 1 Vara Criminal Federal de Curitiba, que deveria autorizar a chegada de presos ao presídio — os juízes souberam da transferência do traficante pela imprensa. O secretário de Segurança do Paraná, Luiz Fernando Delazari, considerou a transferência normal e previsível:
— É um preso a mais entrando no sistema penitenciário.
Entre os moradores, o clima é de medo. Sem se identificar, um dono de posto de gasolina afirmou que até o prefeito da pacata cidade já estaria com planos de se mudar.
O governo não quer ocupar todas as 208 vagas do presídio, que só tem celas individuais.
— É um grande avanço podermos isolar os cabeças do crime — afirmou Maurício Kuehne, diretor do Depen.
Cinco estados — Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo e Pernambuco — já pediram ao governo federal a transferência de presos para a nova prisão no Paraná. Outros dez estados, incluindo São Paulo, estão em negociações.
Henrique Gomes Batista e Ana Paula Carvalho
O Globo
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