Banco Central vai lançar campanha para estimular o uso da moeda em substituição ao papel, mas ainda sem prazo para ser concluída. E transferiu para instituições privadas o serviço de distribuição de dinheiro
O Banco Central ainda não definiu a data, mas já decidiu que vai tirar as notas de R$ 1 de circulação. As cédulas serão substituídas aos poucos por moedas no mesmo valor. A justificativa do diretor de Administração do BC, João Antonio Fleury, é que a fabricação das notas está ficando muito onerosa aos cofres públicos, devido a seu curto tempo de duração. Na média, as cédulas de R$ 1 têm de ser trocadas a cada 12 meses — um terço do tempo de renovação das demais cédulas —, enquanto as moedas chegam a durar até 30 anos. Além do pequeno ciclo de vida, as notas de R$ 1 são transmissoras de doenças e de bactérias, pois circulam, principalmente, nas regiões mais pobres do país, onde as questões de higiene são precárias. “A nossa meta, com o fim das notas de R$ 1, é reduzir os custos à sociedade brasileira”, disse Fleury.
O processo de substituição das cédulas de R$ 1 começará com uma campanha publicitária para estimular o uso de moedas. A propaganda será veiculada depois das eleições presidenciais de outubro, para que não seja vinculada à candidatura à reeleição do presidente Lula. O BC vai mostrar os benefícios de se usar o dinheiro metálico e a importância de não se reter as moedas em casa, ante a necessidade do comércio de troco. Hoje, segundo o chefe do Departamento do Meio Circulante do BC, João Sidney de Figueiredo Filho, estão em circulação pelo país 500 milhões de cédulas de R$ 1 e 480 milhões de moedas no mesmo valor. O BC não acredita que o volume de moedas supere o de notas ao longo deste ano.
No total, o país gasta R$ 300 milhões por ano para disponibilizar à população cédulas e moedas. Desse valor, 80% são destinados ao processo de substituição de notas mal conservadas, sem condições de uso. Apesar do expressivo crescimento dos meios eletrônicos de pagamento, como os cartões de débito, os brasileiros ainda continuam usando muito o dinheiro em espécie, fato comum em economias mais estabilizadas. Em julho de 1994, quando foi lançado o Plano Real e o país, finalmente, venceu a hiperinflação, havia R$ 9 bilhões em circulação na economia. Hoje, são R$ 70 bilhões, representados por 11 bilhões de moedas e 3 bilhões de cédulas.
“Não fossem os meios eletrônicos — o Sistema de Pagamento Brasileiro (SPB) movimenta R$ 1,9 trilhão por dia, valor equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) do país —, as pessoas teriam de andar com malas de dinheiro para pagar todas as suas contas”, afirmou Fleury.
Junto com a sentença de morte das notas de R$ 1, o BC informou ontem que vai transferir para o sistema bancário todo o serviço de distribuição de cédulas e moedas. Na primeira etapa, que já está em andamento, apenas o Banco do Brasil abastecerá o mercado. Fleury acredita, porém, que os grandes bancos, com forte presença em todo o país, vão aderir ao que ele chama de sistema de custódia. As instituições terão de comprovar capacidade para prestar o serviço, construindo caixas-fortes, e serão auditadas periodicamente pelo BC. Pelo abastecimento de dinheiro, poderão cobrar até 0,016% do valor movimentado na operação.
“Será criado um Conselho Técnico da Custódia de Numerário, com participação de representantes dos bancos, da indústria e do comércio, para avaliar os serviços. Além, disso, técnicos do BC irão pessoalmente a várias localidades do país para saber se a população está satisfeita com o modelo de distribuição de dinheiro”, ressaltou Fleury. As instituições que não atenderem aos requisitos básicos definidos pelo BC serão multadas e descredenciadas do sistema. Os bancos custodiantes terão, inclusive, que abrir guichês exclusivos para atender à população em busca de troco, mesmo os não-correntistas. “Quando todo o processo de distribuição de dinheiro estiver nas mãos de bancos, o que deve acontecer ao longo de 30 meses, o BC economizará R$ 22 milhões por ano”, assinalou.
Varejo receoso
Apesar das promessas do BC de que o abastecimento de cédulas e notas ficará mais eficiente, reduzindo os problemas de troco do varejo, os comerciantes estão receosos. Para Homero Lima Vieira Jr., 50 anos, dono de uma lanchonete na 202 Sul, o BC não deveria “privatizar” a distribuição de dinheiro. “Se, hoje, já é gravíssima a falta de troco no comércio, imagine o que acontecerá quando os bancos assumirem o serviço de distribuição. Será um problema ainda maior”, disse Vieira Júnior, que, ontem à tarde, dispunha de apenas duas notas de R$ 1 no caixa de seu movimentado estabelecimento. Ele disse ainda ser totalmente contra o fim das cédulas de R$ 1. “As notas são melhores que as moedas, pois as pessoas não costumam guardá-las em cofrinhos”, destacou.
Na opinião de Júlio Carlos da Silva, 46, dono de um quiosque nas imediações do BC, a falta de troco já foi pior. Ele disse que, por vender produtos mais baratos, sempre acaba recebendo moedas e notas de baixo valor. “Há dias em que acabo sendo o trocador oficial de dinheiro nas redondezas. Os que mais sofrem com a falta de troco são os restaurantes”, conta.
Vicente Nunes do Correio Braziliense
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