Ministro afirma que ‘felizmente’ eleição passou e origem do R$ 1,75 milhão será desvendada no tempo certo
A investigação do dossiê Vedoin já completou dois meses, mas o ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, ainda tem dúvidas sobre a importância criminal da trama que envolveu a tentativa de compra de denúncias contra políticos tucanos durante a campanha eleitoral. ‘A Polícia Federal está investigando, é preciso ver realmente se isso tem uma grande gravidade ou se não tem uma grande gravidade’, disse o ministro – a quem a PF é subordinada -, na noite de quarta-feira, após a abertura do 19º Congresso Brasileiro de Magistrados, em Curitiba.
O caso do dossiê Vedoin foi deflagrado no dia 15 de setembro, quando a Polícia Federal prendeu, em um Hotel Ibis em São Paulo, os petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos com R$ 1,75 milhão, em reais e dólares. O dinheiro seria entregue a Luiz Antônio Vedoin, dono da empresa que funcionava como pivô da máfia dos sanguessugas, em troca de material que supostamente incriminaria candidatos do PSDB no esquema de venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras.
O discurso do ministro é contraditório com as informações da PF. Ainda antes do segundo turno da eleição, ao divulgar que a fonte de pelo menos uma parte (US$ 109, 8 mil) do dinheiro destinado à compra do dossiê já havia sido descoberta, a PF foi taxativa: já tinha vestígios suficientes para enquadrar criminalmente os petistas presos, segundo sustentou.
Ontem Bastos adotou a cautela ao falar da questão do dinheiro do dossiê. ‘Agora, por todos os meios que tem e com toda sua carga de êxito de 300 operações bem-sucedidas em quatro anos, a PF vai tentar descobrir a origem do dinheiro’, afirmou. ‘Descobrir de onde veio o dinheiro, isso é uma tarefa que tem de ser feita no tempo da investigação, no tempo da investigação séria, da investigação que não quer fazer efeito no tempo da eleição.’ Segundo ele, ‘felizmente a eleição passou’.
O ministro negou ter declarado que a apuração sobre o caso iria terminar antes das eleições, mas reconheceu que alguns dos protagonistas da trama já estão identificados. ‘O que eu disse foi que a cadeia causal estava absolutamente desvendada até pela confissão das pessoas’, disse.
O indiciamento, segundo a meta da PF, deveria seguir a mesma tipificação penal adotada com relação aos sócios-proprietários da Vicatur – ou seja, crime contra o sistema financeiro (Lei do Colarinho-Branco). A Vicatur é a casa de câmbio da Baixada Fluminense que lançou mão de laranjas para executar contratos de câmbio fraudulentos – origem de parte dos dólares para a compra do dossiê.
Bastos não explicou o que levou a PF a mudar de mão e não promover até agora o enquadramento dos envolvidos. Mas elogiou a atuação da instituição. ‘Nós travamos uma grande luta contra a corrupção, nunca os organismos encarregados disso, como a PF, o Ministério Público Federal e a Controladoria da União, tiveram tanta independência. A PF executou mais de 300 operações, 200 das quais para desbaratar esquemas de corrupção’, afirmou. ‘A corrupção é uma coisa séria, é uma praga, mas pior que a corrupção é a corrupção impune.’
O ministro assegurou que não vai mesmo continuar no comando do Ministério da Justiça. ‘O presidente vai ter que escolher outro ministro.’
Fausto Macedo
O Estado de S. Paulo
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