Presidente da Infraero não soube explicar motivo de atraso e admitiu problemas
Em Congonhas, vôo da TAM, de Salvador, previsto para chegar às 11h30 aterrissou às 19h10; não é possível saber se situação será resolvida hoje
Mais de uma semana após o apagão aéreo que paralisou os principais aeroportos do país, os passageiros voltaram a enfrentar ontem atrasos de até oito horas para conseguir viajar. O problema, que teve início no sábado, se agravou ontem e, até a conclusão desta edição, não era possível saber se a situação irá se normalizar hoje.
O presidente da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária), brigadeiro José Carlos Pereira, admitiu que houve atrasos na partida de vôos, nacionais e internacionais, em pelo menos três aeroportos: Congonhas (SP), Cumbica (Guarulhos) e Luís Eduardo Magalhães (Salvador).
Mas nem ele sabia dizer o que estava acontecendo. “Aparentemente é um problema de espaçamento [de vôo]. Mas não temos idéia do que está causando esses atrasos.”
No final da tarde, após conversar rapidamente com o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, Pereira continuava sem ter informações detalhadas. “Houve um problema na manhã que teve um efeito-cascata. A normalização está acontecendo mas vai entrar pela noite”.
Já a assessoria da FAB declarou que os atrasos eram “normais” para um fim de semana. Mas em Cumbica, onde 56 vôos nacionais e sete internacionais tiveram atrasos superior a duas horas e meia, a média de atrasos para o final de semana é de de quatro a seis vôos com atrasos de duas horas, no máximo.
Em Congonhas, foram registrados problemas em 38 vôos -19 partidas e 19 chegadas. Um vôo da TAM, de Salvador, deveria ter aterrissado às 11h30, mas só chegou às 19h10. Um vôo que viria de Brasília para São Paulo foi cancelado.
No Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães, em Salvador, oito vôos, todos com destino ao Sudeste, saíram com atraso de até quatro horas.
Segundo a Infraero, a maior parte dos vôos atrasados (cinco) aconteceu pela manhã. Para impedir as cenas de violência registradas no feriado de Finados, a Polícia Militar foi chamada para reforçar a segurança.
“O governo precisa resolver este problema o mais rápido possível. O presidente Lula e o ministro Waldir Pires [Defesa] acham que somos idiotas”, disse o engenheiro Luiz Andrade, que foi até o aeroporto de Salvador para acompanhar o embarque de uma filha para Belo Horizonte. O vôo partiu após atraso de mais de duas horas.
Sem uma resposta oficial sobre a nova onda de atrasos, o clima nos aeroportos foi tenso durante todo o dia. Em Cumbica, o boato era que os controladores de Brasília tinham intensificado a operação-padrão, iniciada no início do mês, provocando os atrasos. A informação, porém, não foi confirmada.
Cerca de 30 passageiros procuravam o SAC (Serviço de Aviação Civil), da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), para registrar reclamação, em Cumbica. “A companhia aérea pediu para eu não entrar no portão de embarque porque estava o caos. Disseram que deveria monitorar pelos painéis da Infraero”, diz a engenheira agrônoma Rafaela Rossetto, 47, que perdeu o vôo para Maceió.
Inicialmente, o avião iria partir às 11h45. No monitor, o vôo de Rafaela (TAM-3511) estava previsto para embarcar às 16h35. Ela entrou na área de embarque às 15h25, quando chegou ao portão, o avião já tinha decolado. Após uma espera de meia hora, a TAM reembarcou Rafaela em um outro vôo.
Um funcionário da Infraero, que pediu para não ser identificado, disse que a situação iria piorar ainda mais com forte probabilidade de também continuar até o feriado de quarta-feira, Dia da República.
Com falta de operadores, até supervisor teve de ajudar a controlar vôos em BrasíliaNo setor que controla o tráfego aéreo entre Brasília e o Rio de Janeiro, por onde passam muitas rotas importantes, o desfalque de operadores- um dos fatores do apagão aéreo da semana passada- só está se complicando.
Dos oito controladores que deveriam estar trabalhando ontem, apenas três estavam no console do radar às 16h. O supervisor, um oficial superior, teve que tomar assento e passar a controlar vôos pessoalmente para que a situação não ficasse ainda pior.
Segundo a Folha apurou com controladores, o problema decorreu da falta de dois controladores da equipe do sábado -um quebrou a perna e outro teve problemas familiares, segundo a Associação Brasileira dos Controladores de Vôo.
Anteontem eles foram substituídos, mas a escala apertou e o problema se repetiu ontem.
Os 15 controladores que vieram para reforçar o centro de Brasília ainda não concluíram o treinamento no sistema. Eles têm de passar por um curso de 30 horas sobre o setor aéreo no qual irão trabalhar.
Mas ainda assim, isso será só um reforço para aliviar o esquema draconiano de escalas adotado pela FAB após o apagão aéreo da semana retrasada.
Segundo um controlador de plantão neste fim de semana, a situação no Cindacta-1 (centro de controle de Brasília) é “desesperadora”. A escala de trabalho, que era de 18 dias em 30, passou para 12 ou 13 em 15 dias.
Assim, problemas aparentemente pequenos, como a falta de dois operadores, podem gerar atrasos. O feriado do meio desta semana, embora não tenha as características de um prolongado, pode colocar todo o esquema da FAB à prova.
Folha de S. Paulo
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