Governo acerta o fim da operação-padrão dos controladores com a promessa de criar carreira
O risco de estender por tempo indeterminado o apagão aéreo — a crise nos aeroportos brasileiros provocada pela operação-tartaruga dos controladores de vôo — acordou o governo em pleno feriado do Dia de Finados. A madrugada caótica nas principais capitais brasileiras levou ministros de Estado a se mobilizarem ontem para evitar um desgaste ainda maior para o governo. Sete dias depois do início do procedimento-padrão, os ministros da Defesa, Waldir Pires, e do Trabalho, Luiz Marinho, negociaram o fim da greve branca dos operadores de tráfego aéreo.
No final da noite, após reunião em teleconferência, a promessa foi de que a crise no sistema aéreo acaba no domingo, quando deve cessar o efeito dominó provocado pelos controladores. A garantia é do próprio ministro Waldir Pires. Com uma carta na manga — a criação da carreira civil para os operadores — os ministros arrancaram de representantes do sindicato da categoria a garantia de que a operação acabou. O que resulta em um paradoxo: cada operador volta a monitorar 20 aeronaves, simultaneamente, o que traria riscos para o sistema de segurança do espaço aéreo brasileiro, como anunciaram os próprios controladores ao iniciar o movimento.
Além dos dois ministros, que acertaram o fim da operação-padrão com o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, Jorge Botelho, participou da teleconferência o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi. Ontem, em pleno feriado, os pousos e decolagens atrasaram praticamente todos os vôos nos aeroportos brasileiros. Cerca de 600 aeronaves permaneceram em solo pelo menos durante três horas. Em alguns casos, os atrasos chegaram a ser de 15 horas. “Esperamos amanhã (hoje) um dia tranqüilo e normalizado. E um retorno no domingo, que possa ser em paz para toda população brasileira. Estamos contando com a participação dos controladores todos para a normalidade do tráfego aéreo”, afirmou Waldir Pires. “O Estado brasileiro não pode ser refém de um setor da sociedade.”
Segundo o ministro, o acordo com os controladores tem três pontos: criação de uma carreira, reajuste salarial e contratação de pessoal. Em meados da semana que vem um grupo de trabalho vai estudar a forma jurídica de criar uma carreira específica para os controladores de vôo. Os detalhes não foram fechados, mas o ministro comentou que o governo deve ser “absolutamente sensível” ao pedido de desmilitarização do setor — hoje, cerca de 80% dos profissionais pertencem às Forças Armadas.
Um reajuste, cujo valor não foi revelado, está em discussão. Ele poderia ser feito sob a forma de gratificação porque assim só os sargentos da Aeronáutica que são trabalham como controladores de vôo receberiam o aumento salarial. “A gratificação de imediato a mim me parece justa”, comentou Pires. O ministro lembrou que hoje o presidente Luiz Inácio Lula da Silva edita medida provisória para contratar 60 controladores, inclusive pessoas aposentadas, em caráter emergencial. Esses servidores poderiam assumir os postos depois de um breve treinamento de dois a quatro dias.
Desconforto
Pires evitou comentar as declarações do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, que durante a manhã disse desconhecer a situação laboral do controladores. “Não analiso a medida dele. É uma medida de natureza da sua própria função de comando militar. Não vou julgar.” O ministro garantiu que ele fica no cargo. “Ele merece a confiança do presidente da República. Merece a nossa confiança. É um grande comandante.”
A Aeronáutica tentou resolver sem negociação a operação-padrão com a aplicação da doutrina militar, dando ordens aos subordinados. Às 8h da manhã os 149 controladores de tráfego que trabalham em Brasília foram convocados para uma reunião no Cindacta 1, onde foram redistribuídas as escalas durante todo o feriado. Na segunda-feira chegarão reforços de outros estados.
“Às 3h detectamos que o tráfego aéreo estava paralisado, e até quatro ou cinco vôos já tinham sido cancelados. Percebemos que haveria um acúmulo muito grande na manhã de quinta-feira se não fossem liberados os aviões”, explicou o comandante.
Segundo o brigadeiro, a medida foi necessária porque os controladores não atenderam ao apelo do ministro Waldir Pires para superarem as dificuldades e voltarem ao trabalho apesar de suas licenças do trabalho. Pelo menos 19 controladores apresentaram atestados médicos depois do afastamento de oito colegas durante a investigação do acidente com o avião da Gol, em 29 de setembro.
Efeito
No início da noite de ontem, as filas nos check-in das principais companhias aéreas já tinham diminuído. O tumulto do aeroporto de Brasília também tinha acalmado. Em parte porque muitos passageiros de vôos sem horário previsto para decolagem, ou que previam muitas horas de espera, foram encaminhados para hotéis da cidade. Os que chegavam para viajar no final do dia tiveram mais sorte do que quem enfrentou a confusão para chegar ao destino durante o dia. Aos poucos conseguiam embarcar.
Apesar da aparente calmaria, por volta das 18h30, todos os vôos previstos para chegar, ou sair, da capital estavam atrasados. Até esse horário, vôos como o 1898 da Gol, que deveria ter saído às 12h35 com destino a Fortaleza, não tinha decolado. Os passageiros do vôo 3709 da Tam para São Paulo também aguardavam a partida desde às 14h30. Uma hora depois, outros três vôos apareciam no painel de informações da Infraero como cancelados.
Eduardo Militão – Do CorreioWeb
Correio Braziliense
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