Presidente licenciado do PT depõe e alega desconhecer origem do R$ 1,75 milhão

Depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter dito que cobrou explicações do deputado Ricardo Berzoini para a “burrice” do dossiê Vedoin, o presidente licenciado do PT e ex-coordenador da campanha à reeleição negou ontem, em depoimento à Polícia Federal, participação na compra do material que tinha o objetivo de comprometer candidaturas do PSDB. Ele disse que só soube do dossiê depois da publicação do caso na imprensa e afirmou desconhecer a origem do dinheiro – R$ 1,75 milhão – apreendido em 15 de setembro em poder dos petistas Gedimar Passos e Valderbran Padilha, em um hotel de São Paulo.

No depoimento de uma hora e meia, Berzoini tentou afastar a crise do dossiê da candidatura à reeleição do presidente Lula. Ele defendeu o ex-diretor do Banco do Brasil e churrasqueiro preferido de Lula, Jorge Lorenzetti, apontado nas investigações como um dos mentores do dossiê. Mas complicou a vida de Hamilton Lacerda – ex-coordenador da campanha do senador petista Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo -, flagrado nas fitas de vídeo do hotel conduzindo a mala do dinheiro.

Ouvido, Lacerda disse que na mala só havia material de propaganda eleitoral, papéis, um notebook e boletos para arrecadação de recursos para a campanha de Lula. Berzoini considerou estranha a declaração porque, conforme afirmou, essa tarefa não era da alçada do assessor de Mercadante.

Quanto a Lorenzetti, o ex-presidente do PT reconheceu que era de fato papel dele, na campanha de Lula, fazer análise de risco, o que incluía checar a procedência e o teor de dossiês contra adversários.

Berzoini saiu pela garagem privativa, sem falar com a imprensa, do mesmo modo como entrou.

SUBORDINADOS

Embora ele não tenha sido indiciado, a situação de Berzoini continua delicada porque vários dos petistas envolvidos no escândalo eram seus subordinados no comitê de campanha à reeleição de Lula.

Duas semanas antes do primeiro turno, a PF prendeu os petistas Gedimar e Valdebran com o dinheiro. Em depoimento à PF, eles disseram que o dinheiro, cuja origem ainda não foi identificada, seria usado para comprar um vídeo, um DVD e fotos que mostravam José Serra, quando era ministro da Saúde, numa cerimônia de entrega de ambulâncias do esquema dos sanguessugas.

A relação dos envolvidos no caso levou a crise para o comitê de campanha de Lula, então dirigido por Berzoini. Além de Gedimar, que fazia análise de documentos, foram citados assessores de confiança do deputado, como seu ex-secretário no Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas, coordenador de programa de governo, e Lorenzetti, analista de mídia e risco do PT.

Vannildo Mendes

O Estado de S. Paulo