Turcão deverá dizer que ajudou financeiramente candidato a deputado do PT

Acusado pode alegar que o dinheiro apreendido veio de uma doação eleitoral e não se destinava a financiar a compra dos documentos

A Polícia Federal marcou para hoje o depoimento do bicheiro Antonio Petrus Kalil, suspeito de ter fornecido parte do dinheiro utilizado por emissários petistas na negociação do dossiê contra os tucanos paulistas José Serra e Geraldo Alckmin.

Conhecido como Turcão, Kalil, 81, é um bicheiro antigo do Rio de Janeiro. A PF descobriu que, do R$ 1,1 milhão que seria utilizado na compra do material contra políticos do PSDB, R$ 5.000 teriam passado por bancas ligadas a Turcão.

No dinheiro apreendido com os emissários petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha, no hotel Ibis Congonhas, em São Paulo, no dia 15 de setembro, havia fitas de máquinas de calcular antigas muito usadas pelo jogo do bicho, além de notas de pequeno valor, o que também indicaria recursos provenientes de apostas. Uma das fitas continha a inscrição “Caxias 118”, o que seria referência a uma banca de jogo.

Uma das dificuldades no rastreamento dessa parcela do dinheiro encontradas pelo delegado da PF Diógenes Curado -responsável pelo inquérito do dossiê- é que Turcão presta o serviço de “descarga”, uma espécie de resseguro para bancas menores de jogo do bicho, a fim de garantir o pagamento a eventuais ganhadores.

Assim, mesmo se confirmado que o dinheiro passou por uma de suas bancas, isso não significaria necessariamente que foi ele quem doou os recursos.

Intimação

Turcão foi intimado a depor na semana passada. Caso compareça ao depoimento, ele deve negar que tenha dado dinheiro para a compra do dossiê, segundo a Folha apurou.

Mas dirá que ajudou à campanha de pelo menos um candidato a deputado federal pelo PT do Rio de Janeiro, e que também fez o mesmo com políticos de outros partidos.

Se havia dinheiro de Turcão no R$ 1,75 milhão apreendido pela Polícia Federal, só pode ter saído dessa doação, de acordo com comentários feitos por ele com seus advogados, assessores, outros bicheiros e com os filhos Antônio e Marcelo. Mesmo assim, ele disse a todos duvidar muito que se consiga provar que doou dinheiro para a compra do dossiê.

Nas conversas sobre o tema, Turcão argumenta que não pode ser responsabilizado se o candidato petista, cujo nome ele tem preferido manter em segredo, usou o dinheiro para essa finalidade. A pessoas próximas ele já admitiu, contudo, que poderá revelar o nome do candidato à Polícia Federal.

Curado está no Rio desde a última quinta-feira. Na semana passada o delegado voltou a ouvir as pessoas usadas como “laranjas” nas operações de dólar feitas pela casa de câmbio Vicatur, de Nova Iguaçu (RJ), pela qual passou pelo menos parte dos US$ 248,8 mil apreendidos com os petistas que negociavam a compra do dossiê com Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas.

Segundo a Folha apurou, os depoimentos reforçam a caracterização dos crimes que teriam sido cometidos pelos dirigentes da casa de câmbio: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, crimes contra o sistema financeiro e falsidade ideológica. Na semana que vem, Curado pedirá à Justiça Federal prorrogação do prazo do inquérito, que vence no dia 26 deste mês.

LEONARDO SOUZA, RAPHAEL GOMIDE e SÉRGIO TORRES

Folha de S. Paulo