Confinamento dos controladores de vôo de Brasília durou cerca de 24 horas

Dois operadores do grupo retido passaram mal no Cindacta-1; atrasos nos aeroportos continuaram, mas em menor intensidade

Uma das principais medidas do governo brasileiro para pôr fim à crise do setor aéreo durou cerca de 24 horas: o aquartelamento dos controladores de vôo de Brasília, decretado terça-feira por tempo indeterminado, foi suspenso apesar de a categoria ter decidido manter a operação-padrão nos aeroportos, iniciada em 27 de outubro.

Mais de cem controladores de tráfego aéreo se reuniram ontem e decidiram manter a operação-padrão como forma de enfrentar o endurecimento militar. A ordem é resistir às “pressões psicológicas”.

O Comando da Aeronáutica confirmou ontem que o “plano de reunião” estava desativado e os cerca de 40 controladores da região Rio do Cindacta-1 que ficaram retidos foram liberados. Os controladores interpretaram o rápido recuo como um ponto positivo, já que a medida não surtiu efeito nos aeroportos, que continuaram registrando atrasos ontem, mas não como no domingo e na segunda-feira, quando cerca de 40% dos vôos foram afetados. Mas ainda não é possível saber se a situação não se agravará. Os atrasos, segundo controladores e governo, foram provocados porque funcionários faltaram no sábado e no domingo. Apesar do remanejamento de 15 operadores de outras regiões, novas contratações só devem ocorrer em 2007.

Clima tenso O clima no Cindacta-1, onde os militares ficaram confinados, ficou ainda mais tenso na noite de anteontem. Há relatos de que dois controladores passaram mal -um deles desmaiou. Um controlador que estava com a perna engessada teria trabalhado durante a noite. Outros teriam sofrido ameaças de oficiais e teria ocorrido outra tentativa de intervenção da Defesa Aérea em um setor de controle aéreo civil. A Aeronáutica nega problemas de saúde ou incidentes no local.

O grupo avaliou no encontro de ontem, feito de forma secreta em uma escola em Ceilândia (cidade-satélite de Brasília), que não há possibilidade de recuo na operação-padrão. Isto é, nenhum controlador vai monitorar mais de 14 vôos e o espaçamento regulamentar entre aviões será mantido. Os controladores afirmam que completaram a carga de trabalho de 144 horas mensais e estimam que irão trabalhar cerca de 240 horas neste mês. Controladores que discutiam a possibilidade de pedir baixa militar em massa foram, por ora, contidos.

A preocupação com a segurança aérea foi reforçada. Além do estresse relacionado ao trauma do acidente do vôo 1907 da Gol, os controladores afirmam que a pressão da escala dobrada de trabalho e a rejeição de licenças médicas estão deixando o grupo esgotado.

Na reunião, o clima descrito foi de “desilusão” e “decepção”. Foi pedida paciência para o encaminhamento político da questão, apesar da determinação do governo por uma solução militar e linha-dura.

Anteontem, na reunião que iniciou o aquartelamento, o novo comandante do Cindacta-1, coronel Carlos Aquino, não teria conseguido estabelecer uma ponte de negociação com os controladores. Apesar do gesto de solidariedade -também passou a noite no local-, foi recebido com silêncio.

LEILA SUWWAN

Folha de S. Paulo