A sobrecarga de trabalho dos controladores de vôo pode comprometer a segurança do tráfego aéreo no país. A afirmação é do ex-presidente da Associação Brasileira dos Controladores de Vôo Ulisses Fontenele que defende uma jornada de trabalho mais curta para a categoria. Por determinação do Comando da Aeronáutica, todo o efetivo teve que permanecer ontem no Cindacta 1. A estratégia faz parte do plano de emergência para resolver o caos nos aeroportos. “Os controladores estão submetidos a um nível altíssimo de estresse e, em poucos dias, isso vai ter reflexos na segurança do tráfego”, garante Fontenele. Ele trabalhou no Cindacta 1 durante 28 anos.
Os funcionários convocados emergencialmente reclamaram do aquartelamento. “O comando mandou buscar as pessoas e não deixou mais ninguém sair do Cindacta. Muitos controladores foram ameaçados, o que criou um clima de tensão”, denuncia o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Vôo, Jorge Botelho.
Entre os controladores convocados estariam profissionais com licença médica. Nove operadores que trabalhavam no dia do acidente com o vôo 1907 da Gol, no final de setembro, foram dispensados. Outros 10 receberam licença nas últimas semanas “Os médicos da Aeronáutica foram orientados a não concederem mais dispensas médicas. Muitos controladores estão trabalhando sem condições físicas e psicológicas. O comando chama isso de aquartelamento, mas é uma verdadeira prisão. Até mesmo quem estava de folga foi obrigado a se apresentar. Todo mundo está cansado e abatido. Qualquer hora dessas, alguém dá um tiro na própria cabeça ”, conta uma fonte.
Na manhã de ontem , o subdiretor de Operações do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), brigadeiro-do-ar Ricardo da Silva Servan, convocou nova reunião no Cindacta 1 e, segundo funcionários, teria feito ameaças. “Ele disse que formaria equipes com apenas 15 profissionais e determinaria que todos permanecessem no centro de controle até domingo. Depois, afirmou que ficaríamos por 15 dias”, disse um operador. A decisão teria sido revogada depois das ameaças de paralisação dos controladores de Curitiba e do Rio de Janeiro. No começo da tarde, os militares foram liberados. O sistema de escalas será redefinido.
Helena Mader / Afonso Morais
Correio Braziliense
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