O deputado federal eleito Clodovil Hernandes vai ter que controlar sua língua ferina, caso queira cumprir o mandato de parlamentar por quatro anos. Antes mesmo de ser diplomado, o costureiro, que foi eleito por São Paulo com quase meio milhão de votos, já foi alertado pelo presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), e pela direção nacional do PTC, partido do ex-apresentador de televisão.
Clodovil deu diversas entrevistas afirmando que estaria disposto a receber mensalão para votar a favor do governo, desde que seja bem superior aos R$ 30 mil que os deputados supostamente recebiam na Câmara. “Cada um de nós tem um preço”, disse ele em entrevista ao Correio na quinta-feira passada. Afirmou ainda que virá a Brasília para sanar a podridão que assola a capital federal.
Segundo o deputado Ricardo Izar, Clodovil foi infeliz nas entrevistas. A um jornal argentino, o costureiro deu a seguinte declaração: “Vou aprender com os políticos com experiência, mas não me ensinarão a roubar porque eu, por pouco, não vou me sujar. Tudo dependerá de quanto me ofereçam para votar os projetos do governo”.
Izar, que presidiu os processos contra os deputados acusados de envolvimento com o mensalão, vê com preocupação a postura de Clodovil. “Se ele repetir essas palavras após a posse, corre sério risco de sofrer um processo de cassação por falta de decoro parlamentar”, alertou o deputado, que preside atualmente 67 ações contra deputados suspeitos de ligação com a máfia dos sanguessugas.
Procurado pelo Correio ontem, Clodovil disse que a imprensa havia entendido mal suas declarações. Ele garantiu que não se corromperá e que será honesto no Congresso como foi em toda a sua vida. “Acho que já começou uma conspiração para me tirarem do Poder. Mas o que Deus me deu ninguém vai me tomar. Fui levado para Brasília por quase meio milhão de votos. Você tem noção do que isso significa?”, ressaltou.
Pelo sim pelo não, a direção nacional do PTC vai se reunir ainda nesta semana com Clodovil para explicá-lo o que é decoro parlamentar e como uma declaração dessa natureza pode, sim, tomar o mandato. “O partido não está contente com as entrevistas que ele vem dando. Vamos explicar a ele que, agora, além de costureiro e artista, ele é um deputado federal. Ele não pode ofender o Congresso dessa maneira. Estamos todos chateados”, afirma o presidente regional do PTC, Omar Nascimento.
O presidente nacional do PTC, Daniel Sampaio Tourinho, já havia se queixado internamente da postura de Clodovil ainda na campanha eleitoral. “Ele se acha maior do que o partido e isso não é bem assim”, diz Tourinho. Com a real possibilidade de perder o mandato, Clodovil animou o empresário paulista Ciro Moura, suplente do costureiro. “Ele está preparado para assumir, caso seja necessário. Pelo menos ele, que está no partido há mais de 20 anos”, diz Omar.
Na avaliação do PTC, depois desse susto de perder o cargo, o costureiro vai policiar mais a língua. “Acho que lhe falta maturidade política. O Clodovil tem uma necessidade muito grande de aparecer. Ele tem que meter na cabeça que a sua votação expressiva em São Paulo representa uma renovação política. Ele é culto e inteligente para perceber isso. Na minha opinião, Clodovil acha que o mandato de deputado é um brinquedinho novo que puseram na mão dele”, critica Omar. Na opinião da direção nacional do PTC, a maior barbaridade que o costureiro disse em diversas entrevistas é dizer que aceitaria mensalão. “Essa para nós é inaceitável. Nosso partido não aceitaria isso”, diz Omar.
Ulisses Campbell
Do Correio Braziliense
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