A Polícia Federal deve pedir nos próximos dias a prisão de Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo. Em depoimento ontem à PF, Valdebran Padilha confirmou que a mala com dinheiro usada por Gedimar Passos para comprar o dossiê contra o PSDB era a mesma que havia sido levada por Hamilton para o hotel onde o negócio foi fechado.
Valdebran e Gedimar foram presos na madrugada do último dia 15 com R$ 1,168 milhão e US$ 248,8 mil no hotel Ibis, em São Paulo. A PF não tem dúvidas de que foi Hamilton quem levou o dinheiro para Gedimar, que representava o PT na transação. Valdebran estava como emissário de Luiz Antonio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas e autor do dossiê.
Hamilton nega que tenha repassado os recursos a Gedimar, apesar de ter sido filmado pelo sistema interno de TV do hotel com a mesma mala que Valdebran agora afirma ter sido mostrada a ele, repleta de dinheiro, por Gedimar.
Segundo Luiz Antônio Lourenço, advogado de Valdebran, a mala levada por Lacerda ao hotel era “igual, 100% semelhante” a que Gedimar exibiu a seu cliente com o dinheiro. Lourenço viu as filmagens do hotel em posse da PF juntamente com Valdebran.
Para a PF, Hamilton poderá ser indiciado por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, além de sonegação de impostos.
De acordo com as imagens analisadas pela polícia, Hamilton e Gedimar entraram juntos no hotel no último dia 14 (uma quinta-feira), por volta das 8h. Hamilton carregava uma bolsa preta grande. Assim que entraram no hotel, tomaram o elevador e foram para o quarto onde Gedimar estava hospedado. Cerca de meia hora depois, Hamilton saiu, sem a mala.
Mais tarde, por volta das 14h, Gedimar e Valdebran foram filmados no saguão do hotel. A mala levada por Hamilton estava com Gedimar.
“Pelo que consta no depoimento do Valdebran, o Gedimar ficava carregando a mala pelo hotel para não deixar aquela quantidade de dinheiro no quarto”, disse o advogado.
Na madrugada do dia 14 para o dia 15, pouco depois de meia-noite, Hamilton voltou ao hotel, dessa vez portando uma maleta e uma sacola plástica.
Na semana passada, Hamilton disse à PF que, na segunda ida ao hotel, carregava apenas um computador portátil e panfletos de campanha. A PF acredita, no entanto, que ele levou a parcela em dólares. Hamilton saiu sem a segunda sacola, e no hotel não foram achados nem computador nem panfletos.
Outro lado
O advogado de Hamilton Lacerda, Alberto Toron, não foi localizado pela reportagem depois do término do depoimento de Valdebran Padilha, e não pôde comentar a declaração de que a mala com dinheiro para o dossiê contra o PSDB era de seu cliente.
Antes do depoimento, Toron disse à reportagem que a Polícia Federal já havia alertado seu cliente sobre a possibilidade de indiciá-lo pelos crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
Segundo Toron, Hamilton “negou peremptoriamente” que tivesse levado o dinheiro ao hotel naquele dia. “Se o delegado pretende indiciá-lo nesses crimes, ele vai tomar as providências que ele julga necessárias e nós vamos tomar as nossas”, afirmou o advogado.
LEONARDO SOUZA
enviado especial da Folha de S.Paulo a Cuiabá
HUDSON CORREA
da Agência Folha, em Cuiabá
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