Chefe do MP diz que “ninguém está protegendo ninguém” e que polícia agiu bem ao não divulgar fotos do dinheiro do dossiê 

O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, defendeu ontem a atuação da Polícia Federal no caso da tentativa de compra, por parte de petistas, do dossiê contra tucanos produzido por Luiz Antônio Vedoin, sócio da Planam. Segundo o procurador, a PF agiu corretamente ao não divulgar fotos do dinheiro apreendido — cerca de R$ 1,7 milhão, somando dólares e reais — na ocasião da prisão do empresário Valdebran Carlos Padilha da Silva, filiado ao PT, e do advogado Gedimar Passos, em um hotel em São Paulo.

A coligação PSDB e PFL, que apóia o candidato Geraldo Alckmin, questiona, desde que os dois foram presos, o fato de a polícia não ter exibido fotos do dinheiro apreendido. Também contesta a decisão da PF de ter mostrado imagens do dossiê e sustenta que o presidente Lula teria sido favorecido no episódio. A oposição compara a situação atual com a da apreensão, em 2002, de R$ 1,3 milhão na empresa Lunus, da senadora Roseana Sarney e de seu marido, Jorge Murad. Naquela época, as fotos das notas foram divulgadas e contribuíram para enterrar a candidatura de Roseana à Presidência (leia memória).

Segundo Antonio Fernando de Souza, “não houve favorecimento”. “Ninguém está preservando ou protegendo ninguém”, avaliou. Para o procurador-geral da República, as fotografias do dinheiro apreendido não têm importância para o inquérito que apura o caso. “O interesse do MP nessas fotos é zero. O que interessa é a apreensão das cédulas e que elas sejam descritas uma por uma no laudo”, afirmou. Perguntado se a origem do dinheiro já não devia ter sido descoberta, ele afirmou que “isso não seria de sua alçada”.

O procurador evitou fazer mais comentários e disse que só falará mais sobre as investigações depois das eleições. “O Ministério Público não pode ser protagonista nem influir no processo eleitoral.”

memória

Notas da Lunus na TV

Em março de 2002, uma operação da Polícia Federal encontrou R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo no escritório da empresa Lunus, da senadora Roseana Sarney (PFL) e de seu marido, Jorge Murad. O dinheiro teria sido desviado da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e seria usado na campanha de Roseana, que era pré-candidata à Presidência da República. Na apreensão, a PF fez imagens do dinheiro e divulgou para a imprensa.

A PF também fez imagens da apreensão dos US$ 248 mil e R$ 1,168 milhão apreendidos num hotel em São Paulo que seriam usados pelo PT para comprar um dossiê que envolveria os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin com a máfia dos sanguessugas. Mas, ao contrário do dinheiro de Roseana, as imagens não foram liberadas.

No caso Roseana, as imagens feitas pelos policiais foram parar na televisão, desgastando a imagem da ex-governadora do Maranhão, que estava em pré-campanha. Por conta da pressão da opinião pública, Roseana teve que desistir da candidatura. Ela e o marido foram denunciados por prática de vários crimes, mas a Justiça Federal rejeitou o pedido de abertura da ação penal.

Eleita senadora, Roseana Sarney decidiu mover ação de indenização por danos morais contra a União. Ela sustenta que o Ministério Público Federal a acusou indevidamente de envolvimento em desvio de verbas da extinta Sudam e prejudicou a sua pré-candidatura à Presidência da República. A ação ainda corre na Justiça.

Fernanda Guzzo

Correio Braziliense